SOS Hospitais

Gilberto Ramos – economista

A crise da saúde pode servir de exemplo para a imperiosa necessidade de separarmos os conceitos de público e de estatal. Que houve uma brutal incompetência na saúde pública, basta olhar as fotos de depósitos de remédios e equipamentos. Tudo amontoado, uma baderna vergonhosa. A alegação da Prefeitura é de que o governo federal não honrou o custeio dos hospitais municipalizados. Já o Ministério diz que o dinheiro era suficiente, porém, mal empregado, sendo aplicado até no mercado financeiro. Seja o que for, quem pagou a conta foi o pobre cidadão contribuinte. De 2003 a 2005 o crescimento da receita municipal da saúde foi auspicioso (de 3,7 bi para 5,1 bi), porém, o percentual aplicado caiu de 30% para 17%. Que pena. A proposta orçamentária de 2005 prevê investimentos 28% (R$ 132 mi) menores que 2004. Novamente, que pena ! Os municípios da periferia do Rio, ao invés de tratar seus doentes, preferem despejá-los no Rio, basta ver o cortejo de ambulâncias pela ponte Rio-Niterói. O funcionamento de um hospital de emergências custa, por ano, o preço de sua construção e montagem. É como, anualmente, construíssemos um Miguel Couto ou um Souza Aguiar. A política correta seria dividir as responsabilidades entre os governos: o federal ficaria com as normas e financiamento; o estadual com a construção dos prédios, seu dimensionamento e localização; os municípios cuidariam da gestão (pessoal e abastecimento). Os estudos conduziriam para a construção de hospitais de referência, distribuídos pelo estado em função das especialidades. Já os programas Médico de Família e Agente Comunitário de Saúde, dependerão da segurança pública, sem o que ninguém se arriscará a entrar numa comunidade perigosa. Mas agora a questão é emergencial: urge enfrentar o apocalipse da saúde pública.