Só Freud explica.

Gilberto Caruso Ramos - economista, foi Vice-Prefeito do Rio

Bin LadenAcho que a mente humana sofre de escapismo crônico: tende a esquecer o desagradável e registrar o alegre. É também nesse esconderijo da alma humana que os sentimentos mais condenáveis se alojam. Lá estão os sete pecados capitais prontos para o grid de largada. Felizmente a ética trazida pela educação e a moral acariciada pela consciência, impedem que o animal aflore em detrimento do humano.

Fico impressionado como há pessoas que atribuem aos próprios americanos a motivação dos atentados terroristas. Só pode ser uma manifestação explícita de complexo de inferioridade. Imaginar que a prosperidade americana seja causa da miséria de outros povos só pode ser má vontade, para dizer o mínimo. Será que já nos esquecemos da odisséia dos judeus nas garras de Hitler ? Quem os salvou dos guetos, dos campos de concentração e das câmaras de gás ? Foram por acaso terroristas raivosos ou foram soldados de uma nação que, acima de tudo, respeita a liberdade ?

Mas se há um sentimento que me repugna é o da ingratidão. Quando as tropas americanas entraram em Paris, o espetáculo era o de homens e mulheres chorando de alegria; em 1956 a França estava, novamente, a beira de um colapso, desta vez econômico. Os EUA socorreram com bilhões de dólares. Dois meses depois estudantes e operários franceses desfilavam pelo Arco do Triunfo gritando palavras de ódio contra os americanos. Eu ví, ninguém me contou, eu estava lá. Alemanha, Japão, e em menor escala Inglaterra e Itália, além de receberem bilhões de dólares em ajuda pós guerra, ainda tiveram grande parte dos seus débitos perdoados. Ainda hoje não estão pagando, sequer, o juros do remanescente.

Quando aconteceu o terremoto de Kobe, novamente lá estava o EUA emprestando dinheiro e mandando turmas especializadas em resgate; quando do terremoto de Los Angeles, ninguém apareceu; os tornados na primavera de 2000 arrasaram 59 pequenas cidades americanas, ninguém deu bola; quando as ferrovias da França, Alemanha e India estavam quebrando por obsolescência, os americanos mandaram recursos e equipamentos a fundo perdido, e foram salvas; mas quando a Pennsylvania Railroad e a New York Central estavam falindo, não apareceu um só país para ajudar. Aliás, faliram mesmo.

Eu poderia citar 5.000 exemplos de falta de reciprocidade para com os americanos. Mas uma coisa é certa: grande parte da liberdade que desfruto devo a eles. Digo mais: sou carioca da gema, nascido na Tijuca e tão brasileiro quanto o caro leitor. Admiro esse extraordinário povo e gostaria que nós brasileiros desenvolvêssemos este formidável sentimento de orgulho nacional que transborda na América do Norte. Reconheço que tenho muitas limitações, mas, pelo menos, não sofro de complexo de inferioridade, nem invejo o bem estar americano. Só Freud explica Bin Ladem e seus fanáticos.