Silêncio culpado.

Gilberto Ramos - economista

O fundo do poçoO descalabro moral levou o glorioso Estado do Rio ao fundo do poço da ética administrativa. Some-se ao escândalo dos fiscais a insolvência financeira e teremos a fotografia perfeita da incúria e da baderna palaciana que nos assola. Esse quadro resulta da cumplicidade dos três poderes: os legisladores que fazem leis casuísticas e mal redigidas e, de outro lado, exigem do Executivo a nomeação de seus apadrinhados políticos para os cobiçados DAS; O Poder Executivo que opera muito mais sob pressão eleitoral, gastando dinheiro em obras populistas e iniciativas demagógicas azeitadas pelos factóides tão ao gosto da imprensa bobinha e carente de notícias mais consistentes; O Poder Judiciário Federal que, no caso do Rio, foi incapaz de determinar a intervenção federal em decorrência do não pagamento de precatórios que, de notar, trata-se de determinação constitucional, portanto, flagrante desrespeito do próprio STF ao descumprir decisões judiciais transitadas e julgadas. Ouço falar muito da Lei de Responsabilidade Fiscal. De fato, já seria meio caminho andado se fosse cumprida. As "otoridades" não dão nem bola para as punições que a LRF prevê. Bem verdade que, cumprindo a LRF, fecha-se o exercício fiscal com um monte de dinheiro em caixa, porém, com as carências sociais cada vez mais próximas da nossa soleira de porta. Esse é o paradoxo: LRF cumprida e irresponsabilidade social aflorando, vide a multidão de crianças abandonadas e a população de rua já com insuficiência de marquises para se proteger da chuva. Quem sabe as prefeituras não preferirão que os indigentes morem embaixo de marquises ao invés de ocuparem áreas de risco ? Será que descobriram um novo programa social , o "MARQUISE BAIRRO" ? Nesse ritmo a Guarda Municipal terá uma nova missão além do combate aos camelôs: o enfrentamento do MSM - Movimento dos Sem Marquises. É mole apurar a corrupção dos fiscais e seus corruptores descobrindo quem pagou, quanto e quando. O mais importante seria descobrir se quem os nomeou também se beneficiou. Para isso seria indispensável que houvesse uma legislação que abrandasse bastante as penas do delator. Certamente poderíamos banir alguns políticos corruptos que vivem mostrando a falsa preocupação com os pobres, mas que se beneficiam do dinheiro surrupiado financiando suas faustosas campanhas para, assim, se perpetuarem nos mandatos que lhes facilita continuarem as tramóias.