ITALIAMIGA, jornal bimestral nascido como boletim informativo do programa
radiofônico da Rádio Imprensa, Buongiorno, Rio, tem como finalidade, a
de procurar divulgar a cultura italiana para os brasileiros que a
apreciam e revelar, aos italianos, a cultura brasileira, especialmente a
carioca. Quando foi decidido festejar o sétimo aniversário do boletim, o
primeiro pensamento foi homenagear personalidades que se destacaram nas relações
entre a Itália e o Brasil, conferindo-lhes a medalha Teresa Cristina.
Em
30 de maio Sua Alteza Imperial Dona Teresa Cristina Maria de Boubon y Bourbon,
Princesa de Nápoles, que foi tão amada, ao ponto de ser chamada “mãe dos
brasileiros”, casava-se, por procuração, com o Imperador do Brasil, Dom
Pedro II. A Imperatriz foi a primeira ilustre italiana a trazer ao Brasil uma
significativa mostra da cultura itálica. Este acontecimento selava, ao mesmo
tempo, a união entre dois povos: o brasileiro e o italiano. Inicia-se então a
grande marcha dos italianos rumo ao Brasil. Homens de todas as camadas sociais,
armados de idéias e de vontade de trabalhar. A cultura italiana se espalhou por
todo o País, a partir do Rio em direção norte e sul. Das idéias nasceram
atividades novas, empresas, projetos culturais, das mãos a conquista da terra,
as oficinas e as mais variadas profissões. No dia 11 de abril, no Salão Nobre
da Câmara dos Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro, à presença do Cônsul Geral da Itália, Dr. Francesco Mariano e
do Juiz Francisco Horta, foram homenageadas
personalidades que descendem, diretamente ou indiretamente, desta gens
itálica. ITALIAMIGA achou que não havia nome ilustre mais indicado para
essa homenagem.
Acadêmico Gilberto França de Lima, o jurista João Luiz Duboc Pinaud ex secretário estadual dos Direitos Humanos, o Presidente Emérito da SIBMS, Giambattista De Giuseppe, o Acadêmico Antonio Olinto, o Vereador Paulo Cerri, o Maestro e jornalista Claudio Guimarães Petraglia, o economista Gilberto (Caruso) Ramos (ex vice-prefeito do Rio) e o empresário Carmine Fucci.
Geraldo França de Lima. Quantos brasileiros se aproximaram da Itália
conhecida através da “Dante”! Um deles é o Nosso Mestre e amigo Geraldo,
escritor elegante. Percorrendo o mundo criado por ele encontramos uma prosa
delicada, poética, de gosto refinadíssimo. Sua invenção poética nos aponta
um Brasil universal. Permeado de sincera religiosidade, seu mundo mineiro não
tem pátria, sendo ele mesmo a pátria onde amor omnia vincit,
mas, igualmente, nec semper lilia florent. O mundo descrito por
Geraldo é um mundo variado. A partir de um tema simples, ele consegue contar
histórias fascinantes, às vezes irônicas, às vezes inacreditáveis, mas
sempre harmônicas. Ele recebe idéia de beleza de todos lados, percebendo
uniformidade onde há variedade. Talvez seja esta a sua idéia de Deus, a sua
sensação religiosa.
Antonio Olinto. O acadêmico Antonio Olinto, o místico Antonio, é outra
figura importantíssima pela contribuição dada à divulgação da cultura
brasileira na Itália. Autor de inúmeros livros de sucesso traduzidos em 19
idiomas, teve sua atividade literária agraciada pelo importante prêmio
italiano Cavour- Grinzani. Seus livros mais importantes (a trilogia africana e
“Sangue na Floresta”) tiveram grande sucesso de público e de crítica.
Importantíssima, enfim, a sua Literatura Brasileira, em italiano, que muito
contribui ao conhecimento dos grandes autores dessa terra na península. Ler os
livros de Antonio Olinto é um prazer primordial e imediato, proporcionado por
sensações puras e combinações harmoniosas; é encanto e emoção. Na vida
cotidiana a linguagem revela a representação mais transparente: captamos de
imediato o significado de que as palavras são signos, mas não temos a
percepção intrínseca, sonora das palavras. Na literatura de Antonio Olinto
coisas até familiares ou pertencendo às crônicas ou ao curso da vida diária,
nos aparecem, de repente, sob sua forma verdadeira e pouco conhecida,
oferecendo-nos maior perspectiva em suas propriedades configuracionais, mantendo
nossa atenção estética em altos níveis de intensidade, nos quais o
sentimento se funde com a atividade da apreensão.
Giambattista De Giuseppe. A marca registrada da presença italiana no
Brasil é a Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro. Essa
benemérita instituição, nascida em 1854, teve como primeiros sócios o
Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina. Uma das mais antigas
associações italianas fora do País, senão a mais antiga, a SIBMS conseguiu
unificar os italianos antes da unificação da Itália. Desenvolveu
importantíssimo papel quer para os emigrantes, quer no desenvolvimento da
cidade do Rio de Janeiro, do presidente, Giuseppe Bersiani, que foi um dos
primeiros pesquisadores da febre amarela, a outros, como Antonio Jannuzzi, o
construtor da Avenida Central, de seus primeiros palácios e que doou à cidade
o belo Obelisco. Não podemos nos esquecer dos irmãos Farani, engenheiros e
urbanistas, dos irmãos Secreto, que trouxeram o cinema no Brasil, Giuseppe
Stoppiani, pai do Carnaval carioca (foi ele que introduziu e produziu no Brasil
as máscaras da comédia da arte italiana, os confetis e as stelle filanti).
A Sociedade tem ilustres sócios honorários, como Eleonora Duse e Guglielmo
Marconi. Deve-se a essa instituição se o turista que visita o Corcovado
apreende que a estátua do Cristo Redentor foi iluminada, via rádio de Roma,
pelo cientista italiano Marconi. Memória viva da Sociedade Italiana é o sócio
mais antigo dessa instituição, o Cavaliere da República Italiana Giambattista
De Giuseppe. Esse pequeno grande homem bem representa a eclética força do
emigrante italiano. Chegou ao Brasil no mês de julho de 1934 numa viagem
memorável. O primeiro trecho da navegação, de Nápoles até Genova, foi
efetuado a bordo do transatlântico REX (detentor da Fita Azul, que agracia o
navio mais rápido entre Europa e New York). Naquela madrugada ninguém durmiu,
não apenas pelo fato de deixar a terra natal, mas por que a rádio transmitia o
encontro de boxe no qual, pela primeira vez, um boxeador italiano teria ganho o campeonato
mundial dos pesos pesados, o friulano Primo Carnera. A madrugada passou na maior
festa e alegria, num ambiente de luxo. A dura realidade chegou no segundo
embarque, no PRINCIPESSA GIOVANNA, navio menor e sobrecarregado que, em nove
dias de navegação com mar muito agitado, completou a travessia Genova,
Tenerife, Rio chegando à capital do Brasil no dia primeiro de julho. Em outubro
Giambattista, com apenas 12 anos de idade, já tinha recebido o título de
sócio da SIBMS. Na Sociedade Italiana ocupou aos poucos todos os cargos até a
presidência. Ao mesmo tempo demonstrava seu ecletismo, tendo-se esmerado em
multíplices atividades como brilhante radialista e ator, responsável das
relações públicas de empresas multinacionais e organizador de eventos,
acumulando títulos e mais títulos, mas o mais importante di todos é a
indiscutível referência e memória da presença italiana no Rio de Janeiro,
tanto que foi justamente homenageado nesta mesma casa, há alguns anos.
Carmine Fucci. Destino similar teve o engenheiro Carmine Fucci, outro
destaque da comunidade italiana no Rio. Nascido numa das regiões mais pobre da
Itália (Deus, por causa disso, a criou mais bela), veio , ao Brasil quando
criança. Pessoa maravilhosa e altruísta, respeitada e respeitosa, um
gentil-homem e, ao mesmo tempo, homem simples, Carmine Fucci foi o artífice da
política de desenvolvimento dos portos brasileiros. Muito discretamente,
estava sempre presente quando a comunidade precisava. Como poucos outros, ele
representa o sinergismo que os emigrantes italianos demonstram em quase todos os
lugares do mundo onde se encontram: ser cidadãos dos Países de residência e,
ao mesmo tempo, orgulhosos de serem italianos. O Brasil, o grande País que nos
hospeda, conseguiu realizar este milagre mais que em outras partes da terra.
Quem sabe semear, neste País, tem a certeza de conseguir uma rica e abundante
colheita.
Claudio Guimarães Petraglia. Da mesma forma, estamos homenageando outra
personalidade eclética e sempre bem atuante na vida cultural do Rio. Difícil
definir sua principal faceta: comunicador, jornalista ou maestro? Claudio
Guimarães Petraglia, homem de grande cultura humanística e musical, é outro
protótipo do italiano perfeitamente integrado na realidade geográfica na qual
vive, mas que carrega, intacto, um patrimônio genético que contribuiu a que
fizesse, da Itália, o Paese del bel canto e da Commedia dell’arte.Chefiando
importantes meios de comunicação, conseguiu e consegue imprimir sua própia
marca cultural nas emissoras, de rádio ou de televisão, pelas quais passou e
naquela em que permanece, a TV Bandeirantes.
Gilberto Ramos. O encontro de ITALIAMIGA com o economista Gilberto Ramos,
foi casual, talvez, mas rico e profundo o respeito que este homem soube nos
transmitir. Pessoa dotada de profundas características de humanidade e de
bondade (dotes esses, raramente acopladas a um economista), impressionou pela
sua capacidade de intuir, entender e resolver problemas, sobretudo os que dizem
respeito às problemáticas sociais. Administrador da res publica, da coisa
pública, por onde passou deixou sua fama de homem íntegro e reto. Pode-se
dizer que a administração da coisa pública é, para Gilberto Ramos, uma
atividade no profit, sem finalidade lucrativa. Com Gilberto deveria ser homenageada
a família inteira, que com ele colabora formando um só corpo e uma só alma.
João Luiz Duboc Pinaud. Que dizer, agora, do próximo agraciado? Homem
de elevada cultura, defensor da lei e da cidadania, pessoa respeitada e
respeitosa da dignidade humana de cada cidadão, sem distinções de credo,
raça ou opinião. Estamos falando do jurista João Luiz Duboc Pinaud. Defensor
da democracia, teve de sofrer, na pele, as conseqüências da intolerância
contra as idéias e as opiniões alheias. Jurista honra do Brasil, professor
universitário de reconhecida competência e valor, teve a possibilidade de
atuar, recentemente, como Secretário estadual de Direitos Humanos e Sistema
Penitenciário, deixando uma indelével marca da sua passagem. Tomara que o
exemplo dele possa inspirar todos os sucessores. Pinaud, como Gilberto Ramos e o
próximo agraciado, são a demonstração concreta e palpável de que o Brasil
é um País que só pode crescer e melhorar tendo homens tão competentes e
honestos como esses.
Paulo Cerri. Nossa homenagem se encerra com a pessoa que nos impressionou
pela figura de homem que sabe transformar a política em algo de útil para a
sociedade. Paulo Cerri, com o sorriso sempre impresso no rosto, sabe falar às
pessoas, das mais novas às mais idosas. Combate com força para solucionar os
problemas da terceira idade, daqueles mais indefesos e esquecidos, não apenas,
os que, desamparados, vivem na rua, mas aquelas pessoas que suportam, escondidas
às escuras, suas carências com dignidade. Quer dizer, aqueles que gostariam de
gritar, mas que não querendo incomodar, ficam calados, sofrendo em silêncio.
Como poucos, ele sabe ouvir estes gritos e sabe dar, aos mudos, uma voz.