Risco, que risco?

Gilberto Ramos - economista, ex Vice-Prefeito do Rio

Com o título acima o economista Fabiano Ramos enviou-me este precioso texto que transcrevo integralmente por endossar sua análise.

- "Embora os mercados de capitais mundo afora continuem muito voláteis e nervosos, percebe-se uma tendência de redução desta histeria ao longo do segundo semestre de 2002. Acreditamos que a decantação deste nervosismo é uma questão de tempo pois não há racionalidade nestas apostas catastróficas.

O humores em relação ao Brasil estão mais influenciados por questões internas - eleições e perfil da dívida pública - do que por fatores externos. Estas externalidades - crise argentina, retração americana, beligerância no Oriente Médio e possível conflito entre Índia e Paquistão - já foram digeridos e servem somente como pretexto para exageros.

Fundamental mesmo é sabermos como o governo pretende gerenciar a economia nos próximos meses. As incertezas associadas à transição política sempre elevam a temperatura dos mercados. Essa é, aliás, uma sazonalidade típica do regime presidencialista, mas deixemos este tema para outra ocasião. O fato é que o baixo crescimento do PIB e a relativa estagnação das exportações devem concorrer para uma "reprogramação" da dívida externa no médio prazo. Simultaneamente, percebe-se que o mercado está regorgitando com os títulos públicos, como fruto, é claro, da deterioração da relação dívida pública/PIB, por sua vez contaminada pela volatilidade do câmbio e juros. O velho círculo vicioso. A convergência natural e indesejável é a "reprogramação" da dívida interna.

No fundo as discussões estão centradas entre capacidade e/ou vontade do país honrar suas dívidas, principalmente se o governo vindouro for de oposição. E foi esta mesma oposição cega que manteve um discurso fortemente hostil contra o pagamento da dívida externa, inclusive ecoando a ridícula proposta da CNBB de se organizar um plebiscito. A mudança de tom do discurso oposicionista apenas aumenta a desconfiança quanto a sinceridade das propostas que, de notar, pecam pela inconsistência. Esta onda de expectativas negativas, além de infundadas, coloca o Brasil na incômoda companhia de Nigéria, Argentina e Equador e, como um boomerang, afeta a desejável estabilidade cambial. Desserviço oposicionista !

O governo anunciou um conjunto de medidas cujo objetivo principal é reverter esta onda de pessimismo sem base conjuntural, assim impedindo que a "cultura de manada" se transforme em profecia auto-realizável. O mercado reagiu moderadamente ao novo conjunto de políticas, indicando a necessidade de munição mais pesada por parte do arsenal do BC. Os humores negativos do momento se dissiparão após as eleições, no instante em as diretrizes do novo governo vierem a público permitindo que câmbio, juros e bolsa se estabilizem em patamar minimamente palatável." Perfeito, sem tirar nem por.