rePeTeco ?

Gilberto Ramos - economista e empresário.

A transição de FHC para Lula parece até reprise daqueles velhos filmes de mocinho: os artistas e o enredo não trazem qualquer novidade e, pior, todos conhecem o final. A platéia, sonolenta, fica na esperança de que o filme melhore, afinal, o cartaz na entrada do cinema dizia que o filme era de "ação", mas, infelizmente, a transição de governo está mais para dramalhão de cinema mudo. As medidas que o novo governo pretende implantar são as mesmas que o antigo governo preconizava: manutenção da taxação do IR em 27,5%, salário mínimo baixo, compressão salarial no setor público, sem falar na mudança das regras para os que ainda não se aposentaram, pesamem, ao velho argumento da chamada "expectativa de direito". O loteamento do primeiro escalão come solto: ministérios são distribuídos com a desculpa de que é indispensável para se obter um mínimo de governabilidade. A discussão das reformas vitais vão sendo adiadas para não desgastar o governo entrante. Aliás, garanto que se elas não forem profundas e radicais não surtirão efeito. Claro que isso gera impopularidade e, certamente, algumas camadas mais corporativas gemerão com a implosão dos seus privilégios. Paciência, é do jogo. Pior, quanto mais adiadas mais urgentes e, sabemos todos, a pressa não é boa conselheira. Será que o novo governo vai mexer nas injustificáveis estabilidade e isonomia ? Vai revogar a aposentadoria integral dos funcionários públicos? Os fundos de pensão serão finalmente financiados com o dinheiro dos funcionários ou continuarão a ser providos com os recursos de caixa das empresas estatais ? A previdência social do setores público e privado será unificada ? Acabarão as absurdas pensões para filhas de militares ? Será imposta a idade mínima para aposentadoria ? Ninguém poderá gozar mais do que uma aposentadoria ? Ai, desculpem-me, é que caí da cama e despertei do sonho. Festeja-se o aumento de arrecadação como se isso não significasse mais transferência de poupança privada para o setor público que, certamente, usará mal. O esforço do governo deveria se concentrar em aumentar o número de contribuintes para que, assim, todos pudessem pagar menos. O equilíbrio fiscal tem que ser buscado pela ótica da redução dos gastos e não do aumento da receita, entretanto, mais e mais repartições são criadas sem a menor necessidade. Temo que as velhas práticas clientelistas sobrevivam. Haja "boquinhas" ! Regorgito com alguns nomes anunciados. Imagino que Roberto Campos e Simonsen devem estar comemorando e nos gozando com as contradições petistas. Mas é o próprio Roberto Campos quem se encarrega de justificá-las - " a contradição é um privilégio das mulheres bonitas, dos homens inteligentes e dos governos realistas". Mas será tanto assim ? Uma coisa ficou clara: a esquerda no Brasil é, tão somente, a direita fora do poder. Como bem disse Delfim: "nada é mais parecido com o governo do que a oposição no governo".