O mundo está passando por uma modificação sociológica profunda, mercê da
capilaridade dos meios de comunicação. A Europa sempre teve suas
características culturais bem definidas, porém, e freqüentemente, a
convivência entre essas diversas culturas foi arranhada por conflitos locais e
até guerras mundiais. Ainda bem que nações democráticas discutem à
exaustão, mas não se agridem. Parece que história fez questão de reservar
esta bendita glória para o regime democrático: é a melhor vacina contra as
guerras, independentemente de suas causas. Duas democracias nunca se agrediram.
Xô ditaduras!
A França sempre foi uma referência na produção cultural. A própria Revolução Francesa decorreu da falência do capitalismo arcaico, fruto da indiferença dos monarcas em relação aos súditos. Os movimentos estudantis franceses dos últimos 50 anos forjaram seguidores, o Brasil entre eles. Atualmente, os universitários franceses e os artistas da Rive Gauche, além discussão sobre da globalização e movimentos afins, dedicam-se a pesquisar alternativas para o chamado "horror econômico". O liberalismo social virou o "must" acadêmico e considera-se brega quem ainda fala de socialismo.
Essa nova Europa será sacudida pelas modificações culturais emanadas da reunificação alemã. De notar, a Alemanha sempre foi uma frenética geradora cultural e, com certeza, isso se repetirá no campo sócio-político ao juntar o sentimento do capitalismo puro da parte ocidental com o coletivismo do setor oriental. Esse coletivismo, mesmo que tenha sido imposto a forceps, há de ter contaminado parte da população alemã que pode ter ficado viciada com a acomodação e passividade próprias do estado "guarda-chuvas". Aguardemos.
Aqui no Brasil a mudança, embora atrasada, está a caminho e será sentida nas próximas décadas. A social-democracia foi uma forma dos países recém saídos de ditaduras ferozes aceitarem um novo regime de auto-responsabilização. A palavra social funcionou como bálsamo, uma espécie de amortecedor semântico, para que os simpatizantes de Salazar, Franco, Mussolini e Hitler aceitassem a restauração democrática em substituição às tiranias. Acontece que social-democracia é redundância. Por acaso existe democracia que não seja social? O que o mundo todo, o Brasil inclusive, está buscando de lupa é a democracia de resultados. A social-democracia está com seus contados.
As próximas eleições brasileiras certamente seguirão o caminho da supremacia do pragmatismo administrativo sobre o lirismo social. Estamos buscando um candidato que consiga juntar a agilidade gerencial da direita com a sensibilidade social da esquerda. E acharemos. Itamar, Lula, Garotinho, Ciro, Jerreissati, Serra? Não creio que esta lista nos satisfaça. A verdade é que tanto a direita autoritária ao idolatrar o mercado, quanto a esquerda utópica que acreditava nas boas intenções do estadismo, ambas estão sem bandeiras e sem discursos.
A esquerda brasileira ficou grisalha e a direita anda pintando o cabelo para parecer mais jovem. Mas não convencem. O apelo ao simbolismo está em decadência e as apelações para bandeiras, broches, lenços no pescoço ou jaquetas La Coste não conseguirão comover a juventude cara-pintada. Ainda bem. Como velhos e calejados mateiros, a garotada encostou os ouvidos no chão e está sentindo os ruídos do novo tempo que se aproxima em tropel franco e avassalador. Mas quem vem lá?