Sempre
gostei de escrever, talvez seja uma quase inconsciente sensação de que o
escrito poderá viver mais do que eu, ou talvez uma traiçoeira vaidade de
escritor teimoso. Escrever é grafar idéias, opiniões, sensações e
angústias, torcendo para que em sendo lido, gere idéias, pulverize
informações e, sobretudo, transforme o coletivo pelo crescimento e
qualificação da massa crítica. Seja como for, fico torcendo para que um dos
meus raros leitores consiga suportar o pobre texto.
Acho que já notaram que, nos últimos tempos, ando meio sorumbático. Só pode ser essa onda de notícias ruins, cada vez mais intensa e variada. Não estou mais esponjando tanto seqüestro, violência, conchavos que chamam de coligações. Abro os jornais, e lá vem o escândalo financeiro do dia. O papo é só dengue e convocação do Romário. Prendem e soltam banqueiros. O político "idealista" vira aliado do inimigo de ontem a quem chamava de ladrão. A televisão me condena à Casa dos Artistas, Big Brother, Faustão, Banheira do Gugú, Caldeirão do Hulk, numa estranha competição pelo pior. Fico a imaginar a clientela. Quem será ? O que espera da vida ? Consegue ligar causa e efeito, interpretar, filtrar, concluir e sistematizar a informação ? Será capaz de anotar um recado ou já é querer demais ?
Pô, cara, fiquei, fui, e aí, sujou, pegou pesado, caiu a ficha, chuchuca, manero, putzgrila, bombado, cheirado... Que dialeto é esse ? Onde essa fauna se reúne ? no baile funk? No pagode da birosca ? Na porta dos colégios cinco estrelas ? Fiquei chocado quando li uma pesquisa do antropólogo Luiz Marins mostrando que, nas fábricas brasileiras, é inútil tentar passar uma orientação escrevendo um bilhete. O conteúdo tem que ser transmitido pessoalmente, ou a ordem será incompreendida. Estamos numa encruzilhada: ou o Brasil reverte essa decadência educacional, ou andaremos de lado por todo o séc. XXI.
A realidade da educação brasileira, tomando como comparação somente os países sul-americanos, é angustiante. Dados do Banco Mundial mostram que temos o maior percentual de analfabetos/habitante do continente, sem considerar que o número total de brasileiros analfabetos supera a população de vários países. Estamos piores do que Argentina, Chile, México, Venezuela, Colômbia e Peru. O pior é que não se vê esforço compensatório por parte dos governos. Recentemente o FMI anunciou que o Brasil tem a pior taxa de investimentos em educação em relação ao PIB. Enquanto Chile e Colômbia investem de 15 a 20% do PIB em educação, o Brasil mal chega a 5%. Pudera, os juros que estamos pagando pelo endividamento público consomem quase toda nossa capacidade de investimentos, por obra e graça do governo FHC, que se ufana da inflação baixa mas esquece de comentar o desemprego e o endividamento público.
Enquanto isso, não custa dar uma sugestãozinha de custo zero: por que as crianças ao nascerem e antes de sairem da maternidade já não recebem a certidão de nascimento e o certificado de matrícula na escola primária. Além de simples, isso facilitaria o planejamento educacional com cinco anos de antecedência. Escola estatal pelo sistema de cooperativa e cheque-educação prefiro deixar para um segundo tempo para evitar que as corporações regorgitem com tantas inovações.