Pesquisas indutoras

Gilberto Ramos - economista, foi Vice-Prefeito do Rio.

A decisão do TSE disciplinando as coligações parece que pirou a cabeça dos políticos que só pensam no poder e temem ficar alijados na distribuição do butim das vantagens. Como crianças gulosas, olham para a mesa de doces com a boca cheia d'água, pulam amarelinha e dançam ciranda cirandinha. O Brasil que espere.

Ficam excitados com a divulgação das pesquisas eleitorais e se apressam em procurar antigos desafetos para montarem alianças inexplicáveis. Parece que esquecem dos exemplos ainda recentes que mostram a volubilidade dos eleitores. A televisão comprimiu o período de avaliação das candidaturas e o cidadão deixará para depois da Copa do Mundo sua escolha para Presidente e Governador. Além do mais, reconheçamos, a listagem não empolga, sobretudo para o Governo do Rio.

Lembro-me de março de 94. Eu cursava a Escola Superior de Guerra e fui chamado para, no coffe break, bater um papo e fazer as honras da casa com o conferencista do dia, o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Perguntei-lhe se pretendia disputar as eleições que se avizinhavam e ele respondeu que desejava, tão somente, continuar colaborando com o Pres. Itamar Franco e, ao final, voltaria a lecionar na USP. Já tendo sido senador e ministro, tanto das Relações Exteriores quanto da Fazenda, considerando que a eleição para deputado nada lhe acrescentaria e seria muito dispendiosa por ter característica paroquial e, sobretudo, levando em conta que pela última pesquisa tinha apenas 6% contra 52 % de Lula, tudo indicava que este venceria no 1º turno. Seis meses depois FHC colocava a faixa presidencial conquistada no 1º turno.

Em 82, Sandra Cavalcanti, com mais de 50%, liderava com folga seis meses antes das eleições. Brizola era o azarão com 2%. Pois deu Brizola e Sandra chegou em 4º, só na frente de Lisâneas Maciel. Sem falar em Collor que veio das Alagoas em 89 trotando um partido de proveta (PRN) e, sem que ninguém levasse fé, com a bandeira populista de caçador de marajás, emplacou a Presidência.

Em 92, quatro meses antes das eleições para a Prefeitura do Rio, Cesar Maia estava disputando o 4º lugar com Benedita. Na sua frente estava até o folclórico Papai Noel de Quintino. A disputa estava polarizada entre Cidinha e Amaral Neto que acabaram comendo poeira. Deu Cesar e Bené no 2º turno. No dia da eleição do 1º turno o Ibope comeu mosca e divulgou pesquisa de boca de urna com Bené e Cidinha passando para o 2º turno. Deu César no final.

Em 2000 o páreo estava entre Conde e Bené. Cesar passou raspando para o 2º turno e venceu Conde no photochart, chegando a anunciar que processaria o Ibope. Em 88 a barbada era Álvaro Valle, mas quem mandou casar escondido 15 dias nas vésperas da eleição ?

Theodore White, americano com Prêmio Pulitzer de jornalismo, conta no seu antológico "Como se faz um Presidente", a epopéia da eleição de JFK derrotando Nixon em cima do laço. Os eleitores indecisos da costa oeste, reduto de Nixon, ex governador da Califórnia, aproveitando a diferença de fuso horário, aguardaram a divulgação da "boca de urna" três horas antes na costa leste, reduto de Kennedy. Como anunciaram uma diferença pró Kennedy impossível de ser descontada por Nixon, os indecisos, no fim do escrutínio, apostaram suas fichas em JFK. Resultado: Kennedy venceu por apenas 0,32% e depois se verificou que sua vitória no leste tinha sido muito mais modesta do que o anunciado.

Esse é o momento dos eleitores botarem as barbas de molho e, examinando a incoerência das coligações híbridas que estão sendo costuradas à sombra dos interesses inconfessáveis, e azeitadas pela vaidade vazia dos políticos, acautelarem-se com os institutos de pesquisa.