Os "amiguinhos" do norte.

Gilberto Ramos - economista e empresário

Em 1989 visitei a Southern Illinois University, em Carbondale-Ill, e conversei com o Prof. John Pearce, reitor desta que é uma das mais conceituadas universidades em ciências agrícolas. Expondo meu desejo de que o Brasil pudesse exportar a produção do centro-oeste pela janela do Pacífico, ouvi o seguinte comentário do reitor: "os americanos farão o possível para dificultar esta saída pois ela representa um perigo para a exportação de grãos dos Estados Unidos para a Ásia". Disse mais: "faremos isso utilizando a própria força de persuasão dos brasileiros". Dias depois eu desembarcava no Rio e via estampada na primeira página do O GLOBO uma foto do Pres. Sarney ladeado pelo cantor Sting e pelo cacique Raoni. O motivo era a assinatura de um convênio com uma ONG para preservação da Amazônia, passando pela questão das reservas indígenas. Os peruanos estão fazendo corpo mole para que possamos atravessar os Andes. Falta um trecho pequeno da estrada peruana que, conectada à BR-317, permitiria chegarmos ao porto de Ilo. O alto custo do transporte rodoviário faz com que o frete até Paranaguá ou Santos seja equivalente ao preço da carga de grãos. Daí até a costa asiática o navio tem que dar uma gigantesca volta. Ou contorna pelo Estreito de Magalhães ao sul da América do Sul, ou passa pelo Canal do Panamá que cobra taxas caríssimas e não está preparado para meganavios. A saída para o Pacífico, através da cidade de Assis Brasil no Acre alavancaria a economia de Mato Grosso e Rondônia, áreas de grande fertilidade. Ali prosperaria a produção de grãos beneficiada pela lavoura extensiva, bem como a pecuária de corte. Até compreendo que os dólares de que os peruanos estão ávidos estejam mais disponíveis nos EUA, mas cabe às autoridades brasileiras convencerem os peruanos de que somos um parceiro conveniente. Afinal as jazidas de gás de Camiséia ao Norte do Perú são de interesse da Petrobrás que poderia substituir a Shell e financiar a estrada que queremos. Raoni e Sting entram nesta briga pois defendem a impenetrabilidade das reservas ianomami pela BR-364. Detalhe: os 8.000 ianomamis ocupam uma área equivalente à Bélgica. Resumindo: é mais fácil transpor os Andes do que contar com os "amigos" ao norte do Equador.