Neoliberal sim, e daí ?

Gilberto Ramos – economista – neoliberal e daí ? 

Volta e meia surgem uns modismos econômicos que viram um tremendo tabú. Agora o blá-blá-blá é discutir se a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa, os Correios e outros gigantes estatais deveriam ou não ser vendidos para a iniciativa privada. Quando a Vale foi privatizada foi um quebra-quebra geral na Bolsa da Praça XV, uma batalha campal. A quebra do monopólio estatal do petróleo foi mais outra confusão, isso sem falar nos conflitos de Volta Redonda em que até morreu gente. Mas será que como a Vale dava lucro, só por isso não podia ser vendida ? Imagino que pensem que há um montão de investidores idiotas querendo comprar empresas deficitárias. A CSN deu um salto de produtividade e o lucro aumentou imensamente. Se antes ela vivia pendurada no Tesouro, hoje ela ajuda a sustentá-lo com os impostos que recolhe. Vejamos a Petrobrás, com a quebra do monopólio estatal do petróleo faltou gasolina para alguém ? E o Banco do Brasil ? Tem um funcionalismo de primeira ordem, recrutado por concursos dificílimos. Esse capital humano vale ouro, tanto ou mais que o próprio patrimônio do Banco. Mas será que um Banco pode ou deve emprestar para seu dono ? Se o dono não puder pagar quem vai executar o dono ? No dia que levantarem a liquidez do Banco do Brasil, talvez diminua o interesse em comprá-lo. Esta situação se deve, unicamente, à intromissão política nos negócios do Banco. O BNDES não é diferente. Há empresas estatais que ninguém quer, é o caso da Mafersa e do heróico Loide Brasileiro. O governo tentou de tudo para vendê-los e, no final, mesmo de graça, ninguém se habilitou nos leilões. O Banerj quando foi vendido dava um prejuízo operacional imenso, equivalente ao orçamento da Secretaria de Saúde. Pergunto, o que é mais prioritário, um Banco ou um hospital ? No início do governo Brizola, o saudoso Banerj serviu para acomodar tantos e tantos amiguinhos que entraram pela janela e depois pousaram e inviabilizaram o Fundo de Previdência do Banco. Para conseguirem vender o Banerj foi necessário, inclusive, financiar o comprador. É preciso entendermos que o estado não é um bom samaritano e tem sua própria lógica, infelizmente, divorciada do Bem Comum. A patrimonialização do estado, ou seja, aproveitar-se dele para receber benesses de todos os tamanhos, inclusive empregos imerecidos, inviabiliza a gestão estatal. O estado é um ente político por natureza e urge separar as funções de estado das funções de governo. O problema é que sempre que se tenta classificar quais são as funções de estado, todo mundo quer pegar uma carona nas vantagens da estabilidade, isonomia e outras mais. A presença do estado na economia pode e deve ser admitida, porém de forma controlada e finita. O estado, na verdade, tem funções muito mais nobres do que simplesmente cavucar o solo, abastecer automóveis e descontar cheques. Se o povo conhecesse, por dentro, o que se passa com as estatais e seus fundos de previdência, garanto que bateriam palmas para a privatização que deveria ser ampla, geral e irrestrita. Digo mais, no dia que contratarem uma auditoria externa independente, se possível internacional, para esmiuçarem a Cehab, Cedae, Rio Previdência e outras tantas, não haverá cadeia para todos. Por favor, não me venham com patriotadas piegas, imaginando que eu queira vender o País. Nossa soberania não está em jogo. Digo mais, se descobrissem petróleo na Cinelândia, pouco me importaria se o poço fosse da Petrobrás ou da Esso. Simplesmente ainda não inventaram um meio de transferir o furo para Manhattan. Parece que o Evo Morales, um atrasado ídolo neonacionalista boliviano – adoro o “neo” – intuiu isto e, exercendo a soberania boliviana, porém, rompendo contratos livremente firmados, nos prejudicou enormemente. Fomos omissos sim, ou alguém acha que os investimentos da Petrobrás no gás boliviano foram feitos a “fundo perdido” ? Foi, infelizmente, o que aconteceu com o gás boliviano em que, também lá, não conseguimos transferir os furos para o lado de cá.