Volta e meia surgem uns modismos econômicos que viram um tremendo tabú. Agora
o blá-blá-blá é discutir se a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa, os Correios
e outros gigantes estatais deveriam ou não ser vendidos para a iniciativa
privada. Quando a Vale foi privatizada foi um quebra-quebra geral na Bolsa da
Praça XV, uma batalha campal. A quebra do monopólio estatal do petróleo foi mais
outra confusão, isso sem falar nos conflitos de Volta Redonda em que até morreu
gente. Mas será que como a Vale dava lucro, só por isso não podia ser vendida ?
Imagino que pensem que há um montão de investidores idiotas querendo comprar
empresas deficitárias. A CSN deu um salto de produtividade e o lucro aumentou
imensamente. Se antes ela vivia pendurada no Tesouro, hoje ela ajuda a
sustentá-lo com os impostos que recolhe. Vejamos a Petrobrás, com a quebra do
monopólio estatal do petróleo faltou gasolina para alguém ? E o Banco do Brasil
? Tem um funcionalismo de primeira ordem, recrutado por concursos dificílimos.
Esse capital humano vale ouro, tanto ou mais que o próprio patrimônio do Banco.
Mas será que um Banco pode ou deve emprestar para seu dono ? Se o dono não puder
pagar quem vai executar o dono ? No dia que levantarem a liquidez do Banco do
Brasil, talvez diminua o interesse em comprá-lo. Esta situação se deve,
unicamente, à intromissão política nos negócios do Banco. O BNDES não é
diferente. Há empresas estatais que ninguém quer, é o caso da Mafersa e do
heróico Loide Brasileiro. O governo tentou de tudo para vendê-los e, no final,
mesmo de graça, ninguém se habilitou nos leilões. O Banerj quando foi vendido
dava um prejuízo operacional imenso, equivalente ao orçamento da Secretaria de
Saúde. Pergunto, o que é mais prioritário, um Banco ou um hospital ? No
início do governo Brizola, o saudoso Banerj serviu para acomodar tantos e tantos
amiguinhos que entraram pela janela e depois pousaram e inviabilizaram o Fundo
de Previdência do Banco. Para conseguirem vender o Banerj foi necessário,
inclusive, financiar o comprador. É preciso entendermos que o estado não é
um bom samaritano e tem sua própria lógica, infelizmente, divorciada do Bem
Comum. A patrimonialização do estado, ou seja, aproveitar-se dele para receber
benesses de todos os tamanhos, inclusive empregos imerecidos, inviabiliza a
gestão estatal. O estado é um ente político por natureza e urge separar as
funções de estado das funções de governo. O problema é que sempre que se tenta
classificar quais são as funções de estado, todo mundo quer pegar uma carona nas
vantagens da estabilidade, isonomia e outras mais. A presença do estado na
economia pode e deve ser admitida, porém de forma controlada e finita. O estado,
na verdade, tem funções muito mais nobres do que simplesmente cavucar o solo,
abastecer automóveis e descontar cheques. Se o povo conhecesse, por dentro, o
que se passa com as estatais e seus fundos de previdência, garanto que bateriam
palmas para a privatização que deveria ser ampla, geral e irrestrita. Digo mais,
no dia que contratarem uma auditoria externa independente, se possível
internacional, para esmiuçarem a Cehab, Cedae, Rio Previdência e outras tantas,
não haverá cadeia para todos. Por favor, não me venham com patriotadas piegas,
imaginando que eu queira vender o País. Nossa soberania não está em jogo. Digo
mais, se descobrissem petróleo na Cinelândia, pouco me importaria se o poço
fosse da Petrobrás ou da Esso. Simplesmente ainda não inventaram um meio de
transferir o furo para Manhattan. Parece que o Evo Morales, um atrasado ídolo
neonacionalista boliviano – adoro o “neo” – intuiu isto e, exercendo a soberania
boliviana, porém, rompendo contratos livremente firmados, nos prejudicou
enormemente. Fomos omissos sim, ou alguém acha que os investimentos da Petrobrás
no gás boliviano foram feitos a “fundo perdido” ? Foi, infelizmente, o que
aconteceu com o gás boliviano em que, também lá, não conseguimos transferir os
furos para o lado de cá.