Se alguém pensava que a eleição de Lula abriria as portas do paraíso petista, já deve estar na bronca: a política econômica petista está afinada com a cartilha de Chicago. Como diz Delfim: não há nada mais parecido com o governo do que a oposição no governo. O plano de vôo suave, traçado antes da decolagem, foi inteiramente alterado pois os radares de bordo avisaram que temos que nos preparar para a turbulência político-institucional à nossa proa. Afivelemos os cintos. Os procedimentos de vôo estão corretos e a tripulação é boa. Mas o avião está muito pesado já que tivemos que colocar poltronas extras para abrigar os amigos do comandante, em especial os que foram esquecidos pelos eleitores em seus estados de origem. Haja ministérios e "boquinhas".
Estão confundindo trabalho com emprego. Somente em janeiro entraram mais 9.900 funcionários na folha da União e, nessa marcha batida do empreguismo petista, serão mais 480.000 empregos em 4 anos, bem menos do que os 10 milhões prometidos na campanha. Mas como a poupança privada é que sustenta a gastança pública, quanto mais empregos públicos, menos empregos privados, justamente os mais produtivos. A iniciativa privada estará condenada a sustentar esta orgia, embora já garroteada com uma tributação extorsiva de 40,34% do PIB em fev/2003, tendendo a 45% até dez/2006.
Na primeira semana de janeiro, José Dirceu anunciou uma redução de 10% nas despesas com cargos comissionados e um corte orçamentário de R$ 14 bi em 2003. Palmas. Infelizmente, era um factóide petista. O aumento da folha de pessoal o desmentiu: só em janeiro foram mais R$ 571 milhões. Se em 2002 gastamos R$ 75 bi com pessoal federal, o novo contingente, apenas considerando o salário médio, já empurra os gastos para R$ 82 bi, isso sem qualquer aumento de salário mínimo que, legalmente, deve ser anunciado em abril. Temos aí um belo fermento para as confusões que se anunciam no front político.
A previdência vem sendo sustentada pelo Tesouro pois, há muito, a receita não consegue cobrir a despesa com benefícios. Em resumo: faliu. Em janeiro, os cerca de 21 milhões de aposentados e pensionistas do INSS receberam R$ 7 bi em benefícios, média de R$ 360,00. Enquanto isso no setor publico, com apenas 1 milhão de aposentados e pensionistas (civis e militares), foram pagos benefícios em torno de R$ 3 bi, portanto, com média de R$ 2.970,00/pessoa. De notar: R$ 5 bi foram desviados do Confins para o caixa único federal. JUSTIÇA PREVIDENCIÁRIA JÁ.
Lula resolveu mandar os projetos de reforma tributária e previdenciária para o Congresso logo em abril. A tese é jogar para o Congresso o ônus pelos cortes de privilégios. Vai ser pau puro. O próprio PT vai subir nas tamancas em defesa de sua tradicional clientela - o funcionalismo público - e as elites se articularão para a manutenção da tributação declaratória que faz a alegria dos Silveirinhas.
Quem vai levantar a discussão sobre estabilidade e isonomia dos servidores públicos? Desconfio que continuaremos andando de lado em matéria de eficiência do setor público, e a reforma administrativa, pela qual tanto lutou o Ministro Bresser Pereira, vai continuar letra morta por falta de vontade política. O nível dos serviços públicos é o melhor termômetro para avaliarmos a qualidade de vida de um país e, infelizmente, a legislação de pessoal do setor público favorece a burocracia detalhista e medíocre, desestimulando a competição e dificultando a avaliação de desempenho individual. Carimbos, papelório, ofícios e certidões não geram riqueza. Lula enfrentará esses problemas estruturais, ou ficará na superfícialidade da maquiagem administrativa., ou insistirá na sua oratória característica: solenizando o óbvio como todo bom pseudo estadista ?