O senador José Serra, convidado pela Câmara de Comércio Ítalo-brasileira
de S. Paulo, se dirigiu aos presentes no "Salone delle Colonne" do
Círculo Italiano daquela cidade. "Comprimento a todos os presentes e
também meus colegas do PSDB que estão aqui, por coincidência todos são
candidatos a reeleição agora em outubro; Tripoli que é deputado Estadual,
Walter Barelli, Zimbaldi e André Montoro a deputado Federal. Queria agradecer a
oportunidade deste convite da Câmara Italiana de Comércio e Indústria de São
Paulo na ocasião do seu centenário. É para mim uma ocasião muito grata estar
no meio de tantos cidadãos italianos e descendentes, é uma ocasião feliz.
Queria dizer também para a tranqüilidade de alguns que não sou candidato a
deputado ou senador nas próximas eleições da Circoscrizione Estero como foi
anunciado. Uma eleição interessante e imagino que vai haver uma disputa
acirrada porque as entidades italianas aqui em S. Paulo se agregam, se
multiplicam no tempo, são 160, de cada região da Itália, em algumas
circunstâncias duas ou três de cada região, imagino então que a eleição de
um deputado aqui em comum com a Argentina será bastante disputada, mas será
uma oportunidade de aproximação do Brasil com a Itália e vice-versa, é algo
que reputo de enorme importância. Nós todos sabemos da contribuição da
imigração italiana para o desenvolvimento do Brasil e particularmente de São
Paulo. O meu amigo Francisco Falsetti mencionou o sotaque dos
ítalo-brasileiros, mas na verdade a musica do idioma italiano permeia o jeito
de falar português em S. Paulo, a gente pode conversar com representantes da
aristocracia paulista, como se dizia antes, de 400 anos e se percebe a
musicalidade da língua italiana no jeito de falar, isto é muito claro para
quem vem de fora. Como esteve ausente do Brasil 14 anos, quando voltei percebi
que isto é bastante nítido, a musicalidade do idioma italiano extrapola a
própria colônia e marca a cultura e a língua dos paulistas. A grandeza
econômica de S. Paulo no seu fundamental foi feita com a contribuição
principal de duas correntes de imigrantes: os italianos e os nordestinos, sem
diminuir as contribuições de outras migrações. Portanto creio que temos uma
grande responsabilidade com o nosso país porque de alguma maneira foi S. Paulo
que impulsionou a industrialização brasileira o desenvolvimento do Brasil
durante muitas décadas e isso nos torna mais solidários com a necessidade de
retomar esse desenvolvimento como ocorreu no passado. Eu morava numa Vila na rua
da Mooca e outro dia dando uma entrevista me lembrei de cada família, de todas
as casas. Havia um denominador comum, era gente modesta mas não tinha ninguém
desempregado, não lembro de ninguém em casa esperando conseguir emprego. Eu
mesmo na infância e na adolescência não sabia direito o que queria fazer na
vida, vivia cheio de dúvidas, desde ser dono do armazém na esquina, talvez
porque era o lugar onde tinha doces, isto e aquilo, ou de estudar engenharia,
mas só não tinha dúvidas a respeito de que conseguiria trabalho, isso era o
Brasil no final dos anos 40, dos anos 50. Não vejo porque não possamos pouco a
pouco recolocar o Brasil naquele trilho, naquele rumo de desenvolvimento, creio
que temos todas as condições para isso. Hoje a casa está arrumada no Brasil.
Conseguimos deter a inflação galopante, ainda tem um pouco de inflação mas
muito pequena, inflação que ameaçava destruir o corpo e a alma dos
assalariados, conseguimos colocar o déficit do governo sob controle, criamos um
clima favorável a atração de investimentos. O Brasil hoje está preparado
para voltar aquela época em que nos nós formamos, isso é tarefa para os
próximos anos, isso vai depender da nossa condição, da nossa capacidade para
reunir vontade política, competência e persistência. É preciso ter vontade
política para fazer as coisas, competência para equacionar os problemas e
persistência para que eles se resolvam logo, esta é a nossa formula. Nós
somos vizinhos, irmãos, da Argentina, eu tenho sangue argentino, porque a mãe
da minha mãe era argentina filha de italianos. Hoje nos estamos assistindo as
desventuras desse país irmão, dessa nação amiga. Dentro do processo de
globalização cada país precisa ter as suas verdades, as suas certezas e a
Argentina acreditou nas certezas dos outros, segundo a qual cada peso valia um
dólar, como não valia mergulhou numa crise que a gente não sabe quando vai
parar. Infelizmente seus governos não quiseram num determinado momento ter a
coragem de adotar medidas, que embora de conseqüências impopulares, teriam
evitado a situação a que si chegou hoje. Nós temos que dar muita atenção a
isso, porque a inépcia não é patrimônio só da esquerda, a inépcia percorre
todo o espectro do panorama político; o Brasil já pagou caro por
experiências, por aventuras num passado recente. Outro problema que temos é a
invasão da casa da família do Presidente da República por gente que pode
levar o Brasil não a argentinização mas a colombinização, porque este
pessoal do Movimento dos sem Terra é esquema Colômbia, não tenhamos nenhuma
dúvida disso, portanto teremos que enfrentar esses problemas. A Câmara de
Comércio e Indústria Ítalo-Brasileira vai ser, sem duvida, um instrumento
importante, pois ela tem muito a ver com aquilo que o Brasil precisa para
acelerar o seu crescimento e um dos componentes é de exportar mais. Gostei
muito do que o presidente Edoardo Pollastri disse, que a União Européia
precisa se abrir mais para a América Latina. O protecionismo, hoje está
situado entre os Estados Unidos, a União Européia e o Japão que só para a
agricultura dão de subsídios 1 bilhão de dólares por dia, temos agora o
problema do aço com ao Estados Unidos, portanto esta é a batalha que nós
haveremos de travar conjuntamente. Estou convencido que todos os integrantes
desta Câmara, todos os representantes de empresas sediados no Brasil diretores
e presidentes das filiais vão se somar conosco nessa luta pela abertura do
mercado porque eles querem sair-se bem como empresários e querem que o Brasil
se expanda, querem o progresso do Brasil. Nós temos que fazer essa aliança,
essa é uma aliança fundamental com a Itália e com toda a Europa. Pelas nossas
afinidades a gente espera que a Itália nos ajude a ganhar toda a Europa para
essa luta. Há uma citação de Winston Churchil que sempre faço. Ele dizia que
há três coisas difíceis na vida: 1o subir uma escada numa parede que se
inclina na nossa direção - 2o beijar uma mulher que se inclina na direção
oposta - 3o fazer uma palestra agradável no meio de um jantar com todos
cansados e com fome. Iremos ter um processo eleitoral muito difícil, aqueles
que acompanham o noticiário sabem que eu sempre me opôs à antecipação da
campanha eleitoral, mas infelizmente essa antecipação aconteceu, é muito cedo
ainda mas os institutos de pesquisas emitem opiniões a cada três dias, vamos
viver um processo muito acelerado, muito difícil, inclusive com risco de muitas
baixarias. De fato vamos necessitar de muita paciência, mas nenhum italiano é
muito paciente e muito menos um calabrês, muita paciência e ironia ao longo
desse período. Estou convencido que poderemos chegar a um bom resultado; um bom
resultado para nós não vai ser uma recompensa de natureza pessoal, de natureza
partidária; um bom resultado para nós é aquele que possa realmente oferecer
à população aquilo que ela merece, que é um futuro com mais segurança. São
três seguranças: uma é a segurança do emprego, a segunda é contra a
violência e a terceira é a segurança contra a velhice. Uma das coisas que o
brasileiro mais teme é a de chegar a uma idade avançada e ter uma
aposentadoria com a qual não possa viver, precisar de um hospital e não ser
atendido, precisamos trabalhar nesse sentido, conjuntamente elas são
fundamentais, são a razão de nosso trabalho. Vou completar 40 anos de vida
pública. Iniciei em 1962 quando fui eleito presidente da União Estadual dos
Estudantes de S. Paulo, naquele tempo o Walter Barelli não quis e acabaram me
escolhendo, depois fui eleito na União Nacional dos Estudantes e fui morar no
Rio de Janeiro, ali veio o golpe que me obrigou a fugir do Brasil até porque
fui condenado pela justiça militar num processo-farsa. O sentido da minha vida
é o sentido da justiça e do desenvolvimento, isto me da força ao longo do
tempo e espero poder continuar a contribuir com o meu país. Outro dia, estava
parado na rua e veio um sujeito e me disse: você vai ser o primeiro presidente
brasileiro sem cabelo! Fiquei pensando e entrando na ante-sala do presidente
onde tem as fotos fiquei olhando e achei que o sujeito tinha razão. Não tenho
certeza absoluta, seria também evidentemente o primeiro, isto é garantido,
descendente de italianos, brasileiro da primeira geração. Estou convencido que
esta vai ser uma luta difícil mas uma luta boa, gosto de brigas boas e de
desafios; as brigas boas são aquelas nas quais a gente tem razão e que
conseguem mobilizar as pessoas e a opinião pública. Esta é uma boa briga, sem
violência, com convicção e com persuasão. O Gov. Mario Covas disse uma vez:
para ganhar uma eleição è preciso primeiro querer vencer, segundo convencer e
terceiro não esmorecer. É um bom resumo daquilo que a gente tem que fazer,
estou convencido de que juntos nós vamos vencer! Dizendo, em italiano,: uniti
vinceremo"!