Intervenção no Rio: não faltam razões.

Gilberto Ramos- economista.

Julho de 92, a sucessão municipal esquentava e a polarização estava entre Cidinha e Amaral Neto. Em terceiro vinha o folclórico Papai Noel de Quintino, em quarto Benedita e quinto, com apenas 2% no Ibope, remava César Maia, então deputado pelo PMDB. Embolados no fim da fila Dornelles, Sergio Cabral e Técio. Sugeri e agendei uma visita do César ao Gen. Ângelo Barata – Comandante Militar do Leste. No princípio o candidato torceu o nariz, afinal era um ex exilado e o pessoal da esquerda poderia não entender aquele procedimento. Fomos recebidos com toda cortesia e ouvimos um relato impressionante sobre a violência no Rio, interrompida durante a Rio-92 com a presença ostensiva do Exército nas ruas. Depois da visita, chegando no hall do Min. do Exército, os repórteres de plantão voaram no César que pronunciou a frase que haveria de diferenciá-lo dos demais candidatos: - “se for preciso peço o Exército nas ruas”. Bené mordeu a isca e chiou, o que acabou transferindo a polarização para César x Bené. O Rio vivia uma situação terminal em razão da permissividade brizolista e, como tínhamos acabado de experimentar as delícias da paz nas ruas, optou-se por uma candidatura de viés mais conservador.

O Rio vive nova onda de insegurança. Se naquela época a questão central era de vandalismo e desrespeito à ordem urbana, agora a insegurança assume contornos de sobrevivência. Morre-se por qualquer trocado. Pretos e brancos, ricos e pobres estão com suas vidas em risco. Nos ônibus, em casa, no carro, nas calçadas, seja o que Deus quiser. O segurês, um novo dialeto que inclui verbetes tipo força-tarefa e inteligência investigativa, surgiu para acalmar a patuléia em pânico. Faço parágrafo para mudar de rumo. A reversão da insegurança passa por três etapas bem distintas: a curto prazo pela repressão e intimidação do transgressor. Para isso deve-se usar do rigor policial e militar que se fizer necessário – ou até mais. No médio prazo há que se construir um arcabouço legal muito mais duro. Nossa legislação é muito frouxa e a relação custo/benefício do crime tem que ser altamente desfavorável ao bandido. No longo prazo – e simultaneamente – prioridade absoluta para a educação, principalmente a pública. Neste quesito não esqueçamos do planejamento familiar, sabendo-se que a educação é o mais eficaz de todos os anticoncepcionais. Mas, como condição preliminar e indispensável para implementarmos os remédios de curto, médio e longo prazo, vamos descontaminar a educação de toda e qualquer ideologia e, sobretudo, não tenhamos receio da impopularidade que o rompimento deste ciclo de violência certamente gerará. Dispensamos o charlatanismo político. Factóides e populismo a R$ 1,00 podem aguardar outra época.