Haja fôlego

Gilberto Ramos - economista e empresário gramos@matrix.com.br

Nunca os brasileiros ouviram falar tanto de economia. Alguns termos passaram a fazer parte do cotidiano dos noticiários da televisão: superavit primário, deficit e equilíbrio fiscal, superavit comercial, investimentos estrangeiros diretos, dívida externa líquida e, sobretudo, FMI. Este passou a ser o bicho papão da moda, mais cruel e traiçoeiro do que o lobo mau da estória do Chapeuzinho. Quero decifrar tão somente o significado de equilíbrio fiscal. Assim como no seu orçamento doméstico, o governo não deve gastar mais do que arrecada. Quando isso ocorre são duas as alternativas: ou o governo emite moeda e gera inflação financeira, ou lança títulos públicos - o mesmo que promissórias - que podem ser adquiridos por empresas e cidadãos brasileiros, ou se socorre de poupança externa e vende estes títulos no exterior. A soma da dívida interna mais a externa dá a dívida pública total. Para que essa dívida não cresça indefinidamente, o governo tem que gastar menos do que arrecada. Infelizmente, a incúria administrativa tem levado o governo a aumentar tributos ao invés de gastar menos. Quando a tributação passa de determinado limite, o contribuinte descamba para a sonegação como remédio heróico para não falir. No Brasil há sempre uma gigantesca resistência corporativa dos que vivem às custas do dinheiro público. Resultado: prolifera a superposição de funções no setor público. Vamos aos exemplos. O governo federal privatizou o sistema Telebrás, o carro-chefe do Ministério das Comunicações. Em seguida criou a Anatel e está pensando em terceirizar os Correios, a exemplo de outros países. Aí pensei: vão extinguir a Ministérios das Comunicações. Que nada, a moçada e os carros chapa branca continuam lá. Agora temos o dobro da estrutura para sustentarmos. Acabaram com o DNER, Sudene e Sudam, tradicionais focos da mais deslavada corrupção. Que bom ! Mas a alegria durou pouco: criaram o DNIT para cuidar da infra-estrutura das estradas, a ADA (Agência de Desenvolvimento da Amazônia) e ADENE (Agência de Desenvolvimento do Nordeste). Ou seja, trocaram as siglas, jogaram fora os papéis e envelopes timbrados, mas a patota lá está, como carrapatos de gabinete para alegria dos padrinhos políticos em véspera de eleição. No governo estadual criaram o Rio-Previdência para, com 200 funcionários, suprir as deficiências do IPERJ com seus 2.500 funcionários. Pois adivinhem: continuam os dois institutos. Na Prefeitura do Rio então é uma festa. Lá estão a Fundação Rio-Esporte e Secretaria Municipal de Esportes, a Riotur e Secretaria Municipal de Turismo. Estrutura administrativa é o que não falta. O que talvez esteja escasseando em todos os níveis de governo é vergonha na cara. Mas enquanto o contribuinte tiver um pingo de fôlego, o governante vai continuar mantendo esse funcionalismo inchado e o povão que se vire.