A legislação eleitoral, ao criar as eleições em dois turnos, pretendia induzir cada partido a disputar o primeiro turno com seu melhor nome. Se ninguém alcançasse maioria absoluta no primeiro turno, aí sim as coligações seriam costuradas transparentemente para o segundo turno. Não é o que se vê. O AI-2, extinguindo os partidos então existentes e instituindo o bipartidarismo, caiu como uma bomba na incipiente tradição partidária brasileira. Hoje são 42 partidos, 22 deles com registro definitivo.
FHC pediu que o tema da sucessão só fosse discutido a partir de março/2002. Nem o PSDB lhe deu ouvidos. Os jornais, farejando o fastio denuncialista pós Jader, Estêvão, Maluf, ACM e Arruda, partiram para a desenfreada boataria sucessória. Os partidos da base governista, depois de terem se empanturrado dos favores oficiais, resolveram botar as manguinhas de fora indicando pretendentes à presidência. Aí fica claro o caráter carreirista e oportunista que tomou conta do cenário político.
O PMDB especula sua candidatura própria, aparentemente sem nenhuma chance. Itamar, Simon e Michel Temer estão apenas preenchendo o vazio. A cultura dominante do PMDB é cacifar algum espaço, e só. Raul Jungman, ministro da reforma agrária, dono de belo discurso e atuação exemplar, está filiado ao PMDB e pode ser a carta na manga peemedebista. Oriundo da esquerda, conhece bem a clientela que defende o estado interventor. O PSDB não deixará de lançar um paulista, provavelmente Serra. Tasso não vai decolar. O Ceará só tem 3% do eleitorado nacional e a visibilidade de Tasso é muito acanhada. O PTB é um deserto de nomes e quer uma carona no PPS. Pelo menos é o que eles dizem. Na hora certa acabam apeando do cangote de Ciro e embarcando na candidatura favorita. Até o PPB ficou saliente e quer emplacar o ministro Pratini, uma excelente figura, tanto sob o ponto de vista administrativo, quanto pela simpatia de afinado tocador de violão. Mas com Maluf de presidente, o fardo é muito pesado para Pratini carregar.
A oposição ensaia a fórmula petista de sempre e vem de Lula, já cansado de guerra e barba grisalha. O PDT está procurando de lupa algum nome que tenha sobrevivido ao caudilhismo brizolista. Não vai encontrar. Partidos menores como PC do B e PSTU poderão, quando muito, coadjuvar, ajudando a segurar o andor e batendo panela. O PSB, partido de tantas tradições, descambou para o fisiologismo evangélico. Seu único e possível candidato - Garotinho - manipula a superficialidade da mídia e faz da sua hesitação em definir seu rumo, o factóide perfeito para se manter como notícia.
Quase esqueço do PFL, um partido com irresistível vocação para a chapa branca. Seu abre-alas traz como destaque a governadora Roseana Sarney Murad. Ela se transformou na estrela possível do melhor conservadorismo, agora maquiado com batom e pó-de-arroz. Mas isso em nada deve ofuscar suas qualidades de administradora de um estado pobre como o Maranhão. Dizem até que comanda melhor do que seu pai, hoje político do Amapá ... Justiça se lhe faça: sua beleza bem que suavizou aquele cenário carrancudo e machista da sucessão. É a novidade do grid de largada.