A intervenção do governo na PREVI já veio tarde. Os fundos de previdência representam uma "caixa preta" mal cheirosa e serviram para escoar dinheiro das estatais para os bolsos de seus funcionários. O esquema escabroso era simples: para cada real de contribuição do funcionário, a empresa contribuía com outros 3 ou 4. Há casos em que a relação chegou a escandalosos 7 por 1. Os fundos de previdência são os principais investidores nos Estados Unidos e é por isso que as empresas americanas conseguem dinheiro barato, tanto para investimento quanto para capital de giro.
Se perguntarem quem é o dono da GE, da Coca-Cola, ou da GM, ninguém sabe. São os fundos de previdência que detêm o controle e nomeiam os diretores, que têm mandato fixo e são permanentemente avaliados.
No caso da PREVI, um fundo com ativos de R$ 40 bi, dois diretores são filiados à CUT e ao PT e recebiam salários mensais de R$ 20 mil. Assim também quero ser "trabalhador". Outro descalabro foi o que aconteceu no CENTRUS, fundo do Banco Central capitalizado com contribuições maciças do próprio BC. Quando veio a lei estabelecendo a paridade de contribuições - 1 por 1 - os funcionários pularam fora, deixaram de contribuir, sacaram o que estava capitalizado via dinheiro do BC e, pasmem, conseguiram que o BC os considerasse estatutários, ou seja, funcionários públicos. Aí aplicaram aquela regrinha marota de que funcionário se aposenta com o último salário e, com esse truque, conseguiram aposentadorias de R$ 20 mil, em média.
O Brasil precisa revigorar o mercado de ações, o caminho mais barato para que uma empresa possa obter recursos. Mas antes há que separar o mercado de risco do mercado de crédito. É inadmissível que banco possa correr riscos aplicando recursos de depósitos à vista. Um bom exemplo é o Banespa, um extraordinário banco que acabou vendido com um rombo de R$ 32 bi. E tudo começou na Corretora Banespa. Aliás, aqueles pilantras que deram esse prejuízo ainda estão por aí, livres, leves e soltos.
Com um volume médio diário no primeiro trimestre deste ano de US$ 200 milhões na BOVESPA, o investidor institucional para comprar ou vender algum lote de ações, tem que fazê-lo através de negociações privadas como ocorre em investimentos de "Private Equity". No entanto, e não obstante a falta de liquidez das ações listadas em bolsa, este investidor ainda é forçado a conviver com a terrível constatação de que a vasta maioria de seus investimentos em bolsa, carece das mesmas proteções de um investimento em "Private Equity" como, por exemplo, um acordo de acionistas estipulando, claramente, seus direitos e deveres.
De acordo com dados da Economática, no primeiro trimestre deste ano, das 412 ações listadas na BOVESPA, nada menos que 288 ações apresentaram volume médio diário menor que U$ 500 mil. E pasmem: apenas 80 ações tiveram média diária de transações superior a U$ 10 milhões. Portanto, se o investidor, seja este uma fundação de previdência ou uma seguradora, precisar vender ou comprar uma participação equivalente a U$ 10 milhões para enfrentar algum compromisso, dificilmente realizará a transação no espaço de tempo necessário para a maioria das ações cotadas em bolsa. É difícil imaginar, por exemplo, este investidor se desfazendo de U$ 10 milhões de ações ordinárias de Ipiranga, Petroquímica, Itaubanco ou Marcopolo. Nos últimos 360 dias, as ações destas companhias movimentaram, somadas, apenas U$ 39 mil. E o que dizer da liquidez das ações ordinárias de Usiminas com volume médio de U$ 1.000 ?
A situação do investidor em ações no Brasil deteriorou com a Lei Kandir. Esta retirou direitos básicos de investidores, exacerbou no Brasil a existência na prática de três classes ações e arruinou de vez a situação dos minoritários detentores de ações ordinárias. Resultado prático: prejudicados, sem mecanismos de proteção e expostos a risco maior, investidores institucionais passaram a demandar retorno maior sobre o capital investido, aumentando, assim, o custo de capital de nossas já combalidas empresas, sugadas por juros proibitivos. Os investidores perderam e, além disso, a produtividade das companhias desceu ladeira abaixo em relação às suas concorrentes estrangeiras que operam, obviamente, com capital de captação mais fácil.