Cotas para negros

Gilberto Ramos – economista, foi Vice-Prefeito do Rio

De vez em quando aparecem umas idéias bizarras que envergonham a inteligência brasileira. Quando estabeleceram cotas para mulheres se candidatarem na política, imaginei que iriam parar por aí. Que nada. A demagogia tem fôlego de gato. A Bíblia foi transformada em programa de partido político e Jesus foi rebaixado a cabo eleitoral. O populismo, esse vírus oportunista contra o qual a única vacina testada é a educação, ataca mais freqüentemente nas proximidades de eleições. É o caso desta infeliz iniciativa de se reservar cotas para as mais diversas "minorias". Primeiro foi a reserva de vagas nas universidades oficiais para os alunos egressos das escolas públicas. Garanto que esta idéia só vai prejudicar a qualidade acadêmica do ensino superior que, aliás, já anda sofrível. Agora chegou a vez da cota de 20% para os negros em concursos públicos. E a Constituição ? Vamos ignorar o art. 3º - IV – "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, COR, idade e quaisquer outras formas de discriminação"- ? Essa questão das cotas virou modismo e cópia imperfeita das chamadas "políticas compensatórias", invenção já descartada nos EUA. Segundo o IBGE, a população brasileira de negros e brancos está estabilizada, verificando-se crescimento apenas entre os mulatos. Eis aí a primeira fonte de controvérsia e atritos. Já estou antevendo a enxurrada de liminares de gente querendo que se determine a cor da pele; e na Bahia de maioria negra quem mereceria a reserva de cotas ? Os negros não precisam deste tipo de favorecimento. Até em esportes tipicamente praticados por brancos eles estão brilhando, vide as irmãs Williams no tênis e Tiger Wood no golfe. O que dizer então da Glória Maria que, a meu juízo, é a melhor e mais classuda apresentadora da televisão brasileira? O que temos a fazer é dignificar a escola primária, principalmente a pré-escola. Igualando as oportunidades educacionais o restante acontecerá. Reservar cotas é ratificar e aprofundar a discriminação, sentimento torpe que a cultura brasileira sempre rejeitou. Graças a Deus !