Caiu a máscara das milícias...

Célio Lupparelli, Vereador da Cidade do Rio de Janeiro

O vereador, Dr. Célio LupparelliEm 2005, Elias Maluco condenou o jornalista Tim Lopes à morte, quando este fazia uma reportagem sobre os bailes funks nas comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro. O crime foi cometido por Traficantes e chocou o País. Agora, no fim do mês passado, a Milícia de Realengo torturou e espancou jornalistas que produziam reportagem sobre como é a vida na comunidade dominada por paramilitares. Por milagre, uma repórter não foi morta.
Qual é a diferença entre estes dois grupos, no que tange às barbaridades e às práticas abusivas nos lugares em que atuam com truculência, aterrorizando as pessoas, impondo regras e costumes, sob as barbas do Estado?
A evolução dos grupos milicianos teve início na ausência do Estado em reprimir as ações delituosas de criminosos que perturbavam a vida das pessoas das comunidades cotidianamente. Grupos de militares ou ex-militares e voluntários se organizaram e passaram a vender proteção, em troca de contribuições, às vezes vinculadas às associações de moradores e repassadas para os paramilitares. Além disso, passaram a ser benfeitores, pois, em alguns casos, prestam serviços de atendimento social, médico etc. Surgiram os centros sociais... E as comunidades sofridas até então aprovaram o novo modelo.
Mas, o Poder passou a estimular o ganho financeiro. Os paramilitares bonzinhos até aí passaram a ampliar suas atividades ambiciosas e ilícitas, controlando transporte, venda de gás e de bebidas, serviços de correio, cabos de TV fechada etc. O "negócio" proliferou e os ganhos aumentaram a cobiça. Surgiram os códigos de comportamento, os toques de recolher, o controle do lucro de pequenos comerciantes etc. Criar o Império do Temor é fundamental para a dominação plena. Passaram a ter a promíscua relação com setores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
A tortura sofrida pela equipe do Jornal O Dia na favela do Batan provocou reações indignadas de autoridades e entidades de todo o Brasil:.. "O que a reportagem, num paradoxo, mostrou, ao ser feita, é que o direito de ir e vir inexistia e que as relações desses para-policiais ali, com os moradores, é também de terror. Portanto, um fato de extrema gravidade, pois reproduz a lógica do tráfico de drogas, apenas trocando as fontes de receitas" (Cesar Maia, Prefeito)... "Minha orientação à Secretaria de Segurança é de encontrar e prender esses facínoras" (Sérgio Cabral, Governador)... "O Brasil precisa é de Justiça e não de Justiceiros" (Cezar Brito, Presidente Nacional da OAB)... "Esse pessoal da milícia é tido como bonzinho, mas são tão ou mais violentos que os traficantes. Isso é um negócio e as pessoas têm que denunciar" (Zeca Borges, Coordenador do Disque-Denúncia)... "A milícia é facção como Comando Vermelho e todas as outras criadas para explorar atividades criminosas. Só que capitaneada por policiais que extorquem. São uns jagunços. Já achamos carros roubados dentro do Batan e isso mostra que as instituições de Segurança do Rio estão falidas" (Paulo Cesar Lopes, Cte. do 2º Comando de Policiamento de Área).
Se os repórteres foram submetidos a toda ordem de humilhação, imaginem os cidadãos que convivem com este estado de coisas no seu dia-a-dia. É evidente que os constrangimentos são inúmeros e o império do medo prevalece. A pretexto de garantir segurança (dever do Estado) e impedir o tráfico de drogas (dever do Estado), os milicianos acabam abusando a partir do momento em que se sentem os "donos do pedaço". Ato contínuo, surgem o terror, a submissão e o Estado Paralelo.
Neste último fim de semana, os jornais noticiaram que milícias e traficantes estão negociando ou fazendo acordo para controlarem as favelas do Rio. Vejam só o absurdo a que chegamos.
Nosso repúdio a esses grupos é total, mas não apenas pelo que passaram os jornalistas no exercício de sua função, mas, também, pelo que sofrem os moradores, trabalhadores humildes e desprotegidos, que têm como única alternativa se conformar e calar diante deste quadro perverso e desalentador.
A sensação de Impunidade realimentou o sistema criminoso. Agora, O Estado tem mais do que obrigação em agir... E agir muito rápido!

CÉLIO LUPPARELLI
Professor, Médico, Administrador, Pedagogo
Ex-Diretor de Escola Municipal por quase 30 anos
Ex-Administrador Regional de Jacarepaguá
Ex-Secretário Municipal de Governo
Exerceu Mandato de Vereador da Cidade do Rio de Janeiro (2007-2008)