Bush e o Iraque

Gilberto Ramos - economista e empresário.

Temos sempre a tendência de torcer pelo mais fraco, pelo menos é assim no esporte. Às vésperas da guerra contra o Iraque, esse piedoso sentimento de solidariedade foi substituído pelo ressentimento contra os americanos e, principalmente, contra o Pres. Bush. Talvez seja uma manifestação freudiana de despeito e/ou complexo. Não pensem que os americanos gostam de guerra, ou que não lhes dói na carne - e muito - perderem seus jovens soldados nas guerras das quais, em verdade, nem precisariam participar. Dizem alguns - sem provas - que a indústria bélica absorve trabalhadores e que, sem ela, eles estariam potencialmente desempregados; outros acusam os americanos de querer tomar o petróleo iraquiano na marra. Malditos americanos. Será que não são eles, também, os culpados de existirem pobres no mundo ? Será que a pobreza é a inexorável consequência da riqueza ? Claro que não, pois economia não são vasos comunicantes. Se assim fosse, como explicar a prosperidade dos tigres asiáticos que progrediram sem afetar os países ricos ?

Os americanos não gastam essa dinheirama em armamentismo apenas por gosto. Não se trata de um neokeynesianismo militar, outras prioridades sociais absorveriam essa fortuna sem arriscar a vida dos seus soldados, p.e., a previdência social cuja inequação atuarial está deixando estressados os velhinhos americanos. Portanto, o PIB americano agradeceria se os investimentos se dirigissem a outros setores que não o militar. Quanto ao petróleo, eles poderiam usar suas próprias reservas estratégicas, capazes de abastecê-los por oito anos sem comprar uma só gota no exterior. Sem contar o suprimento do México e Venezuela, vizinhos continentais. A Inglaterra, por sua vez, está garantida pelas jazidas do Mar do Norte. Valendo lembrar que estão avançados os estudos do consórcio Chevron, Exxon e Archer Daniel visando a produção de petróleo a partir da biotecnologia. Só em 2001 foram investidos U$ 800 milhões nesta pesquisa. Sem contar a possibilidade, cada vez mais viável, de que o hidrogênio substitua o petróleo e, se isso acontecer, a moçada da burka e do turbante vai ficar falando sozinha.

O que está em jogo na guerra do Iraque é o morticínio entre árabes e judeus. Arafat já não controla seus extremistas e o mesmo acontece com Sharon. O ditador Saddam, que alguns ingênuos rotulam de herói, é o mesmo que já travou uma guerra longa e sanguinária com o Irã, invadiu o Kuwait e bombardeou a minúscula Israel. Vamos deixá-lo à solta para que em seguida possa atacar a pacífica e indefesa Turquia ?

Bush está se comportando como um estadista, seu discurso de 28 de janeiro é peça oratória reveladora de serena firmeza. Sabedor do seu poder de fogo, nem por isso está deixando de dar chances aos iraquianos. O que se quer é desarmar o terrorismo, o mesmo terrorismo que, fanaticamente, não hesita em matar milhares de civis nas Torres Gêmeas, no Clube dos Estrangeiros em Bali ou no Clube Hebraico de Buenos Aires. Tampouco se comove com o sacrifício de seus jovens kamikases homens-bomba. Torço para que Saddam pense e desista do insano confronto mas, caso aconteça, que a guerra seja vapt-vupt e com o mínimo de vítimas.

As ameaças do comunismo que impulsionaram a I Grande Guerra e ceifaram milhões de vidas no avanço imperialista da Rússia leninista sobre os Balcãs para a formação artificial da União Soviética, ou o nazifascismo alucinado de Hitler, não pode ser reeditado por Saddam como se fosse um novo Stalin do Oriente Médio massacrando os Gulags. Não nos esqueçamos de que o mundo tem outros megaconflitos em gestação e a questão Paquistão x India envolvendo 1,4 milhões de almas tende a ser o próximo. Quem apartará esse novo confronto que poderá descambar para o holocausto nuclear ? Saddam ? Pois eu prefiro Bush.