As administrações de esquerda são muito lentas na tomada de decisões porque, na base, confundem democracia e consenso. Como corolário desta tendência, as esquerdas recorrem compulsivamente ao plebiscito, como se esta forma de manifestação bastasse para legitimar qualquer insensatez. Não faz muito tempo, o PT e a CNBB - sempre de braços dados - estimularam uma consulta popular sobre o não pagamento da dívida externa. Não satisfeitos, encetaram um plebiscito sobre a Alca. Detalhe: às vésperas da eleição e sem amplo esclarecimento sobre vantagens e desvantagens. Cá entre nós, será que a "geração big brother" sabe avaliar os prós e contras desta possível adesão ? Só vi uma campanha: era contra e sem dizer o por quê. Ou terá sido uma recaída do nosso complexo de inferioridade do qual um bom exemplo é Itaipú, uma binacional estatal em setor estratégico (energia elétrica) mas da qual ninguém reclama e nem se faz passeata. Será por causa do parceiro, o pequeno e pobre Paraguai ? Já imaginaram o Deus nos acuda das esquerdas se o sócio fosse os Estados Unidos ? Era greve, plebiscito e passeata todo santo dia.
Depak Lal, no seu antológico - A pobreza das teorias desenvolvimentistas - diz que a interdependência é inversamente proporcional à independência das nações. "Sinal dos tempos", diz ele, globalização digo eu. A adesão à Alca é fundamental para nosso país. O Brasil continua muito acanhado nas relações internacionais, principalmente no comércio exterior. É bom lembrar que 100% dos empréstimos que precisamos advirão dos países ricos e 80% das exportações destinar-se-ão ao G-7. Em outras palavras, precisamos exorcizar nossos complexos e, altiva e soberanamente, nos juntarmos aos ricos. Veja o México: após aderirem ao NAFTA não só não foram comidos pelo bicho-papão americano, como deram um grande salto de desenvolvimento e qualidade de vida. Já o Mercosul, dizem que é uma reunião de quatro países (Brasil, Argentina e Uruguai), mas só se contam três (Brasil e Argentina). Humor a parte, faço parágrafo e volto à Alca.
O comércio internacional, após a criação do GATT em 47, deu um salto fantástico e serviu de locomotiva aos países que investiram no aumento da produtividade. Foram 55 anos de prosperidade na economia ocidental. Até a fechada China reconheceu a necessidade da abertura comercial e acaba de ser aceita na OMC. Fizemos todas as démarches possíveis e desde 95 em Denver (EUA), 96 em Cartagena (Colômbia), 97 em Belo Horizonte, 98 em São José da Costa Rica, 99 em Toronto (Canadá) e 2001 em Buenos Aires, que estamos gastando saliva diplomática para costurarmos o acordo da Alca com a redação que nos interessa. Todas as salvaguardas foram previstas, inclusive a cláusula "single undertaking" que prevê consenso (unanimidade) para medidas que obriguem a todos. Entre o GATT e a bendita ALCA, ainda tivemos a ALALC, pouco acionada e que morreu na casca.
O Brasil é um "global trader", com parque industrial e agricultura competitivos, porém, onerados por excesso tributário e juros escorchantes por culpa do governo gastador. Imaginem que em 55 importávamos até privada, hoje somos o quarto maior exportador de aviões do mundo. Não temos que ter medo de ninguém. ALCA sim, o Brasil moderno pede passagem.