A máquina de camisinha

Artigo de Cleber Benvegnú
* Publicado no jornal Zero Hora, editoria de Opinião, edição de sábado, 02/08/2008

De InternetA idéia de levar máquinas de camisinha para as escolas públicas brasileiras foi saudada com grande entusiasmo por muitas pessoas. Porém, alguns especialistas e outros tantos leigos, dentre os quais me incluo, questionam a alternativa. Não estaremos cedendo a uma solução espetaculosa diante de um fato tão mais complexo que é a gravidez na adolescência? Pesquisas indicam que essa faixa etária sabe da existência do preservativo e possui a exata noção de como usá-lo. Um levantamento do Centro de Atenção Integral à Mulher, da Unicamp, mostrou que 99,4% dos adolescentes conhecem a camisinha. O não uso, claro, pode decorrer da dificuldade de acesso ao produto.

Nem por isso, entretanto, a abordagem do tema deve reduzir-se unicamente à seara dos métodos contraceptivos. É preciso alargá-la para uma dimensão que antecede o ato sexual propriamente dito, reflexão que parte da sociedade não está acostumada a fazer. Estamos diante, notadamente, de um problema de ordem moral. Não é moralismo; trata-se apenas de mera constatação: a pornografia invadiu definitivamente o cotidiano da infância e os instintos sexuais, antes despertados na puberdade, agora começam logo depois das fraldas, através de estímulos outrora inexistentes.

Há, nesse contexto, um adversário de difícil combate: o consumismo doentio. Para vender seus produtos, muitas organizações acenam com a vida adulta, maior sonho de uma criança. Numa linguagem – cada vez menos – subliminar, passam a idéia de que, comprando tais itens ou se portando de tal modo, os pequenos vão virar gente grande. O mundo – ou o submundo – cultural também influencia fortemente nesse ponto. E pior: sua ação ocorre diante do aplauso desavisado de pais que se encantam com seus filhos dançando “na boquinha da garrafa” e reproduzindo gestos e frases com conotação erótica. “Eles não têm maldade”, é verdade, mas terão capacidade de discernir o certo do errado logo ali adiante?

Para quem acha que a contracepção é o único caminho, claro que a tal máquina de camisinha pode revestir-se de alguma utilidade imediatista na prevenção da gravidez indesejada. Entretanto, por outro lado, exposta assim num pátio de escola, sem critério e acompanhamento, essa geringonça pode virar, senão uma chacota, mais um estímulo à erotização. Talvez facilite o uso do preservativo, mas certamente nada acrescenta em favor de uma educação para os valores.