A mídia brasileira continua criticando, com ironia, os partidos de centro-direita italianos, especialmente seu líder, Silvio Berlusconi. Todos esperavam o fracasso da coalizão que perdeu as eleições por um punhado de votos (contestados). A extraordinária manifestação de 2 de dezembro passado, em Roma, organizada para protestar contra os 67 novos impostos previstos na nova Lei Orçamentária, que viu a participação de mais de dois milhões de pessoas, vindas, espontaneamente e às próprias custas, de toda parte da Itália e do exterior, demonstrou que o atual primeiro ministro, Prodi, já gastou, em apenas sete meses, todo o seu crédito político. Foi uma grande decepção para os que já estavam se preparando para partilhar a herança de Forza Italia. Para eles foi muito amargo o despertar, pois Forza Italia (FI) está se figurando como o baricentro da política italiana, expressando o único líder, realmente reconhecido pela maioria dos italianos, Sílvio Berlusconi.
O paradigma de toda grande democracia, atualmente, é representado pela força da liderança, isto é, pela afirmação de um modelo de governo moderno e preparado para enfrentar os desafios globais. Quando Berlusconi, há doze anos, decidiu ingressar na política, sua intenção era a de lutar contra as oligarquias que tinham sobrevivido à assim dita “primeira república”. Obteve, de imediato, um grande sucesso, contra o parecer de todos. Sua primeira eleição foi, igualmente, a primeira verdadeira investidura popular em quarenta anos de democracia italiana, e o partido por ele fundado, Forza Italia, com os limites fisiológicos intrínsecos a um partido novo, representou e continua representando um grande laboratório de inovação na política. Não têm cabimento as acusações de que entre o líder Berlusconi e o povo não há nada, não existe infra-estrutura e, por isso, não existem raízes no território. A demonstração do contrário foi exatamente a grande manifestação contra a Lei Orçamentária. Por outro lado, na realidade, a esquerda italiana, com seu partido mais tradicional reduzido ao mínimo histórico, continua a obedecer às ordens e à linha política das centrais sindicais e, para sobreviver, estipulou um pacto de poder com as grandes corporações econômicas e com setores do meio financeiro e do mundo bancário, instituindo um cartel político-econômico seletivo e altamente auto-referencial, que procede constantemente contra os interesses do país real.
A revolta popular que se manifestou em Roma é a conseqüência direta do sofrimento de tantas categorias, médias e pequenas, de tantos sujeitos sociais e de milhões de cidadãos que sentiram a irrenunciável necessidade de romper a opressão representada pela pior lei orçamentária da história da Itália. Quem manifestou, foi a Itália mais autêntica, que se sente representada pelos partidos de centro-direita, com uma mobilização jamais vista no País, sem ter que recorrer aos poderosos meios das centrais sindicais que normalmente enchem as praças da esquerda.
Existem dezenas de estudos e de obras dedicadas ao fenômeno revolucionário e original representado por Forza Italia, cuja nova classe dirigente está se esforçando para garantir estabilidade e renovação ao partido que, numa história de apenas doze anos, se tornou o primeiro partido da Itália.