A lua de mel pós eleitoral.

Gilberto Ramos - economista e empresário

Estamos vivendo as vésperas da guerra do Iraque e, com isso, a mídia redirecionou seus holofotes para os embates que se aproximam. Lula ficou em segundo plano, e isso fará bem ao presidente que será poupado da "over exposure". Não adianta ficar tirando foto abraçado num mandacarú pois a população, sempre impaciente e imaginando que o governo pode trazer felicidade por decreto, está começando a cobrar ações mais diretas. Também não adianta ficar reunindo um bando de gente em "conselhos" efêmeros. Cada reunião, além da perda de tempo, significa uma baita despesa com passagens e hospedagens. Mãos à obra Lula.

As reformas estruturais estão mais do que maduras e só não foram implementadas graças à oposição raivosa, insana e impatriótica de alguns setores que - talvez por cacoete oposicionista - já estão se articulando na obstrução do governo atual que, diga-se, lhes deu carona para se elegerem. São especializados na oratória oportunista e demagógica, e não hesitarão em torpedear o governo aproveitando-se de sua inação. Mãos à obra Lula.

As ações de governo só se viabilizam quando vão ao encontro dos anseios populares mais legítimos. O quadro econômico não é promissor pois há escassez de recursos internos e externos. Internamente nos endividamos até o pescoço, temos uma federação de estados falidos e municípios carentes. As cidades que estão com suas contas em dia também não podem soltar foguetes pois as deficiências sociais estão na soleira das portas, ou seja, as contas vão bem mas o povo vai mal. Vide o Rio com a favelização, camelotagem, mendicância e violência crescentes. Externamente, os EUA absorverão mais capitais para financiamento de seu deficit fiscal. Vai sobrar pouco para nós.

Investimentos públicos não se resumem a obras de engenharia. Investimentos psicológicos também são indispensáveis. Os exemplos governamentais lançam uma aura de otimismo que pode potencializar o êxito administrativo. O recurso dos factóides para ocupar a mídia é remédio de posologia de curta duração. No final do governo FHC o que mais animava a oposição era a enxurrada de denúncias, não só aquelas que atingiam membros do governo, mas também as que acusavam seus correligionários de solaparem direitos e conquistas legítimas. Foi assim com a panacéia das acusações contra os parlamentares que defendiam a adaptação da CLT às conveniências negociais entre patrões e empregados.

O mais urgente e políticamente correto talvez não seja o Fome Zero, até porque o programa está mal estruturado e depende de um voluntarismo escasso e imprevisível. Seria mais palatável anunciar o Impunidade Zero. A custo zero poderíamos lavar a alma dos brasileiros que, motivados pelo exemplo de justiça, trabalhariam com muito mais confiança e produtividade. Isso é o que se chama de investimento psicológico, tão importante para viabilizar um governo quanto o investimento físico.