A importância da agroindústria para o Rio

Gilberto Ramos - economista, foi Vice-Prefeito do Rio

A economia da cidade do Rio de Janeiro está visivelmente caracterizada pela atividade de prestação de serviços. Essa tendência decorre de termos sido capital federal e, portanto, sede da burocracia oficial, e burocracia define-se como a supremacia do formal sobre o essencial. Nossa indústria concentrava-se, basicamente, no bairro de São Cristóvão e a agricultura, pequena e improdutiva, limitava-se às chácaras de Jacarepaguá e algumas plantações na zona oeste. A avicultura e a pecuária bovina eram inexpressivas e só tiveram um alento maior em meados dos anos 60 com o programa ALIANÇA PARA O PROGRESSO, feliz iniciativa da OEA, que permitiu a doação pelos EUA do sorgo excedente, assim barateando a ração animal pela substituição do farelo de milho.

Com a fusão da Guanabara e do Est. do Rio o quadro da agricultura fluminense melhorou muito pouco. Nosso território é pequeno, montanhoso e com grande contraste climático. Nossa planície mecanizável se resume ao norte fluminense muito embora com qualidade de solo bastante sofrível. Mas esse quadro que nos parece desfavorável pode ser uma poderosa alavanca de desenvolvimento regional se for usado com inteligência, usando-se o conhecimento abundante e disponível da Embrapa, que, diga-se de passagem, é uma empresa estatal que nos enche de orgulho.

A região serrana é propícia para a produção de frutas de clima frio e deveríamos estimular o cultivo de morango e cereja, além da floricultura que vai de vento em pôpa, vide Friburgo e Teresópolis. Os coqueirais de Carapebus, Quissamã e Macaé têm produtividade, o mesmo ocorre com o maracujá em São João da Barra e São Francisco do Itabapoana. Os arrozais de Miracema e Laje do Muriaé poderiam ser estimulados; a pecuária leiteira - mas com sofisticação genética - pode ser desenvolvida desde que o governo do estado crie postos de monta e financie a inseminação, inclusive alugando reprodutores às cooperativas. A região sul pode abrigar a fruticultura subtropical mediante aumento das produções de bananas e seringueiras. Sem falar na região centro-sul, outrora grande produtora de café. O noroeste fluminense também apresenta grande vocação para a pecuária, tanto de corte como leiteira. A região de Casimiro de Abreu e Silva Jardim, além da pecuária, apresentam boas condições para a plantação de amora, pasto indispensável para o bicho-da-seda cuja produção está com grande alta de preços internacionais. Itaboraí, Rio Bonito e Araruama bem que poderiam se dedicar aos cítricos.

A grande virada da agropecuária fluminense tem que ser através da agroindústria, única forma de agregar valor à agricultura rudimentar que prevalece no Est. do Rio. Basta lembrarmos da Nestlé, uma fantástica multinacional que embora produza vários tipos de leite, não tem uma só vaca. No caso específico dos seringais bastaríamos aproveitar um minucioso estudo do Dr. Mário Ramos, Vice-Presidente da Firjan, que, além de mostrar as excelências ambientais do cultivo de seringueiras, informa o desatino estratégico que permite que os 18 seringais fluminenses estejam abandonados, enquanto as 48 empresas de transformação existentes no Est. do Rio só compram aqui 9% da borracha natural que consomem. Isto sem falar que a produção de BN gasta apenas 7% da energia necessária à fabricação de borracha sintética.

Como se fala muito em desemprego, reforma agrária e migração campo-cidade, as políticas agrícolas fluminenses me remetem a Gilberto Amado - "está cada vez mais difícil encontrar um brasileiro que saiba ligar causa e efeito".