Geograficamente,
não faz parte do Nordeste, nem da Amazônia. Os senhores geógrafos e os
mestres de altas cátedras são de uma precisão algébrica, ao identificá-lo,
topograficamente, dentro da Pré-Amazônia brasileira, constituindo dessarte,
uma faixa de transição entre o Nordeste e a Amazônia propriamente dita. Se, a
um lado, essa é uma realidade, que singulariza esse espaço do Setentrião
brasileiro, em sede geográfica, a outro lado, lhe é parelha a importância
político-administrativa, em sítio histórico. É um vinco tão forte, quanto
é certo que sua influição se compagina com a idade do Brasil-Colônia, a
datar de sua divisão em capitanias hereditárias. Como cediço, a Nau
Capitânia abicou ao ano de 1500 à enseada de Porto Seguro, no Estado da Bahia,
de modo que somente 40 anos depois, é que se instituiu o sistema de Governos
Gerais, de superlativa importância para a administração da Terra Brasilis.
Precisamente, a partir daí ficou institucionalizada a governação da Colônia,
que passou a ser dividida em dois estados: o Estado do Brasil, abarcando as
capitanias do Ceará até o Sul, e o Estado do Maranhão, abrangendo as
capitanias do Ceará até o extremo Norte. Todos sabem de cor e salteado que, em
nosso Brasil continental, há vários Brasis. O Maranhão, a seu turno, se
derrama numa área de 333.365,6 Km² , enquanto a Itália inteira ocupa 301.251
Km². Do mesmo modo, por água, o maranhão é dono de soberbo sistema
potamográfico, notabilizado pelos rios Mearim, Pindaré, Itapicurú, Grajaú,
Corda, Parnaíba e tantos outros. É circuitado, quer me parecer, pela segunda
maior costa litorânea do Brasil. Do escritor Astolfo Serra são as palavras que
se seguem “O Maranhão é, segundo Henry Buff, o terceiro lugar do mundo onde
mais chove, a quantidade de água é avaliada em 259,8 polegadas de Paris.”
Por outra face está bem próximo da linha do Equador. Demais disso, coisa de
28Km de São Luiz, a única dentre as capitais brasileiras, fundada por nobres
franceses, para ser a França Equinocial, está a cidade de Alcântara, a
primitiva Capital Maranhense, hoje, patrimônio da humanidade. Ali, exatamente
ali, o Ministério da Aeronaútica, subordinado ao Centro Técnico Aerospacial,
criou pelo decreto 7.280, de 12 de setembro de 1980, o Centro de Lançamento de
Foguetes. Inicialmente, a previsão de lançamentos era de 4 satélites da
Missão Espacial Completa Brasileira. Não há no mundo outra base mais próxima
do Equador, o que significa, sob este aspecto, uma economia de 20 a 30% (20 a 30
por cento), em cada lançamento. É eminentemente, estratégica, uma vez que
hoje pode ser utilizada para lançamentos de satélites intercontinentais. Isso
não obstante, já fora assinado um contrato entre o Brasil e os Estados Unidos
da América do Norte, de sorte que a troco de cinco milhões de dólares, por
lançamento de foguete, o Brasil aceitou a instalação, ali, de uma
base-militar, o que significa incontroversa captis diminutio, ou mais
propriamente, o desmonte de nossa própria soberania. Basta acentuar que, pela
referida transação, restou inconcesso ao Brasil, não só fiscalizar, qualquer
pouso ou decolagem de aviões da Terra de Tio Sam, senão também os respectivos
containers e quejandos. Demais disso, Alcântara é o mais estratégico
trampolim para o assenhoramento definitivo da Amazônia. Não é à-toa que
Antônio Vieira, o maior orador sacro de todos os tempos, e cujo nome e vida
estão, historicamente, ligados ao Maranhão, tenha oraculado com inteira
propriedade: “Não ver por não ter olhos, não é grande miséria, mas ter
olhos, e agir como se não viram é a pior das misérias.” Em suma, o cronista
Aremis, acostumado com as mais decantadas belezas da França, de lá não
tergiversou em mandar-nos este recado, de quem tem olhos de ver: “É o
Maranhão terra fértil e boa, onde não há frio, e sim, estio constante,
ninguém conhece o que é frio, e as árvores estão sempre verdes.” Coisa
certa é: enquanto o Maranhão nunca teve um único jogador na Seleção
Brasileira, em contrapartida, tem maranhenses, em barda, na Academia Brasileira
de Letras. São mais vinte. (Adelino Fontoura, patrono número um da Academia
Brasileira de Letras, é um deles e, por coincidência, é tio-avô de Fontoura
Chaves. NDR)
RIO MEARIM Gosto de estar, à beira deste rio, Horas e horas, do alto da barreira, Vendo-o que passa, alígero e sombrio, Varando na mata, em fora, na carreira. Léguas e léguas que percorra a fio, Neste rincão da pátria brasileira, Passa beijando o babaçu bravio, Que explode a esmo, à flor da terra inteira. Nas noites lindas, no silêncio, quando O céu se inclina, entristecido e brando, E a lua cheia nasce atrás da mata, Oh! Como é lindo o Mearim gigante, Sob as carícias da palmeira arfante, Na sinfonia dos caudais de prata.