Pode
parecer um sonho, mas, no mundo real, existe uma cidadezinha encantada, onde as
habitações são brancas, feitas de pedras sobrepostas e telhado cônico, sobre o
qual são desenhados, com cal branca, símbolos cristãos e pagãos. Esta cidade
chama-se Alberobello – o nome deriva de Sylva Arboris Belli (selva das
árvores de guerra) – e fica na Puglia, no alto de uma colina, entre oliveiras e
amendoeiras. Os habitantes dos trulli são pessoas hospitaleiras e sempre
atentas aos turistas. Para estes, são confeccionados belíssimos souvenires
feitos de pedra em forma de trulli; toalhas de linho bordadas à mão; almofadas
decoradas; tapetes; bolsas. Com singular simplicidade, essa gente de origem
camponesa convida as pessoas a entrarem em suas casas – decoradas com o
artesanato local –, para conhecerem o interior destas construções quase mágicas.
O solo de Alberobello é caracterizado por um extrato de crosta terrestre de
origem calcária, que facilitou a formação de camadas de rochas planas de várias
espessuras. Com o decorrer dos milênios, isto favoreceu o desenvolvimento e a
evolução de construções em pedra. Sobre o planalto delle Murge e na
cerrada Selva di Fasano, fixaram-se, no período pré-histórico, tribos
vindas do Oriente Médio, habituadas a construir túmulos e Specchie para
proteger-se das tempestades, dos ventos, da neve e do calor. Esses povos
trouxeram tradições de vida e de morte, como o costume de construir habitações
com cúpulas cônicas, iguais às existentes no território Assírio, com pináculos e
símbolos mitológicos como os que vemos sobre os Trulli de Alberobello. Em
ordem cronológico-histórica, dos túmulos passaram-se às Specchie e,
sucessivamente, aos trulli. Sem dúvida, as cúpulas cônicas foram
introduzidas na Puglia pelas mesmas tribos provenientes da Ásia Menor, que
milênios antes trouxeram as
Specchie e os Dolmen. Ainda que os trulli tenham sido
construídos em época remota, a sua difusão nos campos e em alguns centros, como
Alberobello, começou no final de 1500, quando o vice-rei do Reino de Nápoles
permitiu que os camponeses cultivassem uvas e hortaliças – até então, as terras
serviam somente para o pasto – e construíssem casas a secco, ou seja,
feitas de pedras sobrepostas, sem argamassa e sem cimento. Em Alberobello há
mais de mil trulli, espalhados pelas estradinhas da cidade. O trullo mais
alto chama-se Sovrano (soberano) e foi declarado Monumento Nacional em
1930, por sua arquitetura singular e inovadora. Características também são La
casa d’amore – construção datada de 1797 e primeira a não seguir o padrão
dos trulli –, a Igreja a trullo de Santo Antonio, os Trulli
Siameses, a catedral de São Cosme e Damião, entre tantas outras atrações. É
difícil traçar um itinerário para o visitante. O melhor mesmo é deixá-lo
descobrir, sozinho, toda a magia e o encantamento desta cidadezinha que se
perpetuou no tempo.