A spasso (passeio) pelo Vêneto

de Edoardo Pacelli

A regiâo do Vêneto, com a província de TrevisoGeralmente, quem vem à Itália segue um itinerário fixo, visitando, rapidamente, duas ou três cidades: Roma, Florença e, às vezes, Veneza. O visitante - não gosto de chamá-lo de turista - tem, deste jeito, uma idéia muito superficial da verdadeira Itália, a das pequenas cidades, que nada têm a invejar às grandes em termo de beleza e de cultura. Cada uma tem sua história que se encaixa na história da península, como os caroços na romã. A Itália, sem elas, não é a verdadeira, pois, desde a idade média, todas representavam um pequeno estado que ia se desenvolvendo, autonomamente, do ponto de vista político, social, cultural e lingüístico - é por isso que a Itália conta de um grande número de dialetos. Uma das áreas mais interessantes, deste ponto de vista, é a região do Vêneto, cuja capital é Veneza, cidade-estado, República que durou 1.377 anos. A sua constituição serviu de base a Benjamim Franklin na formulação da constituição norte-americana.

Mas não é de Veneza que hoje falaremos. Itinerário interessante é um passeio pelo interior da Região, pelas estradas que levam nomes significativos: la strada del vino rosso, la strada del vino bianco e la strada del Prosecco. O Conegliano e suas colinasVêneto é, de fato, uma das regiões mais ricas de vinho. Todas estas estradas se cruzam numa pequena e belíssima cidade: Conegliano. Construída ao redor de um castelo sobre uma colina, às margens do rio Piave - considerado sagrado à Pátria , teatro de uma das mais sangrentas batalhas da primeira guerra mundial - a cidade é uma pequena jóia, com os portici, suas marquises cobertas, marco arquitetônico típico da região, com seus belos passeios, com suas igrejas e com a Accademia. AO restaurante Al Salisá, em Conegliano: comida extraordinária e diferente comida é outra característica. Um conselho de amigo? Não se pode deixar de jantar no Restaurante "Al Salisà" onde se pode ser atendidos em português, e onde o paladar é agraciado por sabores únicos, tentadores e deleitosos. Produtos típicos são o aspargo, o radicchio rosso, os cogumelos e os morangos. Mas o orgulho mesmo é o vinho Prosecco. Trata-se do primeiro vinho espumante natural, documentado na literatura em 1710, bem antes da “descoberta” do champagne por Dom Perignon. Neste vinho é bem representada a alma desta terra forte e generosa. A alma da razza Piave. Este néctar não pode faltar nas mesas para acompanhar a comida, mas pode ser servido, bem gelado, como aperitivo.  Os vinhos de Conegliano e das suas redondezas, estão presentes sobre as mesas de alemães, austríacos, suecos, holandeses, belgas, dinamarqueses, suiços, canadenses, norte-americanos e, agora, trazem alegria às mesas brasileiras, pois levam consigo o sorriso das colinas de Conegliano.
Conegliano, pátria do grande pintor, aluno de Bellini, Cima da Conegliano. Aqui se inspiraram Tiziano, Giorgione, Canaletto e Guardi, imortalizando suas paisagens. A cidade é famosa, igualmente pelas redondezas. Em Asolo, onde nasceu a atriz Eleonora Duse - sócia honorária da Sociedade Italiana de Beneficençia e Mútuo Socorro do Rio de Janeiro - existe uma famosa villa véneta, sede de um dos mais bonitos hoteis da Itália, já pertencente aVilla Cipriani, em Ásolo Arrigo Cipriani, o “inventor” do famoso Carpaccio. Nesta pequena e encantadora cidade, o poeta inglês Robert Browning decidiu viver de amor  e de elegias. Ásolo, com seus paláciosO Hotel Restaurante da Lino, com suas panelas de cobre de balcões floridos, suas butiques refinadas e sua natureza deslumbrante, é mágica. Em Solighetto encontramos o prestigioso Hotel Restaurante "Locanda alla Posta da Lino", com sua sala enfeitada por cerca de três mil panelas de cobre penduradas no teto e que tinha como ilustre cliente a célebre soprano Toti dal Monte e o esposo, Mario del Monaco. Em San Polo, pode-se jantar num parque maravilhoso que abriga o restaurante Gambrinus, cujo dono, Angelo, já esteve ao Brasil para apresentar as delícias da gastronomia véneta. Na pequena cidadizinha de San Biagio di Collalto viu a luz o grande estilista Piero Cardin. Na belíssima Possagno, nasceu um dos mais famosos escultores do século XVIII, Antonio Canova (1757-1822). Iniciou a carreira em Veneza, depois se estabeleceu em Roma, onde abraçou os ideais neo-clássicos. Apreciado pelos papas e, depois, por Napoleão - para quem trabalhou em Paris - conquistou renome internacional, exercendo uma grande influência sobre toda a culturaAmore e Psiche de Antonio Canova, no Museu do Louvres européia do Oitocento. Suas obras-primas são: Amore e Psiche (Paris, Louvre), Monumento a Clemente XIII (Roma, S.Pietro), Paolina Borghese (Roma, Galeria Borghese), Napoleão (Milão, Brera), Le tre Grazie (San Pietroburgo, Ermitage), Venere Italica (Firenze, Palazzo Pitti). Construiu o Tempio di Possagno - onde estão guardadas cópias de suas obras, em gesso - e realizou algumas pinturas.
Além de produzir móveis, tecidos e máquinas, Conegliano é, porém, uma das capitais do vinho. Inúmeras são as aziende vinicole, a mais famosa é a Carpené-Malvolti - que produz o melhor Prosecco. Antonio Carpené, químico e enólogo, foi o fundador, em 1877, da Escola de viticultura e de enologia, herdeira das tradições enológicas da República de Veneza. No discurso inaugural, pouco tempo depois da unificação da Itália, ele disse: «Com a liberdade voltamos ao trabalho e, do trabalho constante da inteligência e do braço, colheremos frutos, sem os quais a independência nacional nada mais é se não política e, por isto mesmo, não se pode dizer completa». Trabalho da inteligência e do braço. Este é o lema do povo vêneto, que representa, hoje, o símbolo da laboriosidade italiana, baseada sobre o esforço conjunto das famílias. Um exemplo por todos é o da família Benetton que, em poucos anos, soube conquistar os mercados mundiais.