Segundo as idéias sugeridas por Santo Agostino, a beleza, na Idade Média, era considerada como resultado de uma combinação de unidade e variedade, tornando-se princípio indiscutível nos séculos que se seguiram à Renascença. León Batista Alberti, o maior arquiteto florentino de século XVI, definiu a beleza como: "harmonia de todas as partes, seja qual for o tema em que releva, ajustadas entre si com tanta proporção e conexão, que nada pode ser acrescentado, diminuído ou alterado, sem prejuízo". O espírito humano necessita da variedade para aliviar a monotonia, mas precisa, igualmente, do equilíbrio da unidade, pois, caso contrário, a variedade se transforma em confusão e fadiga. Percorrendo o mundo criado pelo Acadêmico Geraldo França de Lima, encontramos uma prosa delicada, poética, de gosto refinadíssimo. É o mundo que mais explica com exatidão, ao não brasileiros, a imensidade do universo chamado Brasil, explicado, contado com seu próprio sentido interno de beleza. Páginas cheias de lirismo. A percepção das "coisas" encontra nela o âmago, cristalizando seu próprio "ser" na realidade na qual o universo se reflete, encontrando o máximo contentamento e clareza. Geraldo media, pelos seus sentidos, o conteúdo intuído pela percepção, com sua clareza intensa de poeta e artista que, observando o mundo por inteiro, guarda a riqueza da sua experiência, numa plenitude vital da realidade percebida, apreendida e comunicada, atividade que podemos definir percepção ativa, que leva à beleza como expansão e perfeição da percepção comum, proporcionando-nos momentos de rara emoção. A obra de Geraldo França de Lima nos oferece, ao mesmo tempo, o gozo da experiência estética, o cultiva da nossa sensibilidade, a capacidade de apreciarmos uma bela obra de arte, valores estes fundamentais da vida humana, por si próprio. A invenção poética de Geraldo nos aponta um Brasil diferente, mais universal. Não o místico e baiano de Jorge Amado, nem sequer, o afro-brasileiro de Antonio Olinto, mas o Brasil de todos. Mundo. Apenas mundo. Permeado de sincera religiosidade, seu mundo mineiro não tem pátria, sendo ele mesmo pátria, onde amor omnia vincit, mas igualmente, onde noc semper lilia florent. O mundo descrito por Geraldo França de Lima é um mundo variado, pois ele consegue, a partir de um tema simples, contar uma história fascinante, às vezes irônica, às vezes dramática, às vezes inacreditável, mas, sempre, harmônica. Ele recebe idéia de beleza de todo lado, percebendo uniformidade onde há variedade. Talvez seja esta a sua idéia de Deus, a sua sensação religiosa. Quem pode esquecer a sensação de ausência de Branca Bela? Sentimento tão universal, comum a todos os seres pensantes, imortalizado na lápide que enfeita o prédio de Paris onde viveu e morreu Camille Claudel: Il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente (Lettre a Rodin, 1886). Duas mulheres, Camille e Branca Bela, pertencentes a dois mundos tão diferentes, que têm em comum a busca de um preenchimento, que elas conseguirão, apenas, na morte. Geraldo França de Lima seja, talvez, o Rodolfo da ópera Boheme, de Puccini, que assim se descreve: "Quem sou? Sou um poeta. O que faço? Escrevo. E como vivo? Vivo ...". E com ele vive a literatura brasileira junta com os seus leitores, deixando-os transbordar de intensa vibração íntima.
ITALIAMIGA homenageou, em 2002, Geraldo França de Lima com Medalha Teresa Cristina.