Edoardo Pacelli, extraído do artigo de Carmela Piccione - Aprile 2002da ADNkonos
Você
gostaria de mergulhar numa extraordinária viagem no tempo? Saborear climas,
ambientes, civilizações? Tocar com as mãos antigos mapas, globos terrestres,
velhas cartas geográficas, que têm sobrevivido ao longo dos séculos, antes
que a conquista do espaço e tecnologias sofisticadas, inelutáveis em sua
perfeição, permitissem a descoberta de novos mundos?. Este universo a ser
descoberto e saboreado com os olhos nos está sendo oferecido pelo Palazzo Reale
(Palácio Real) de Milão, em colaboração com a gloriosa Editora De Agostini,
por meio da exposição "Signos e sonhos da terra. O desenho do mundo, do
mito de Atlante à geografia das redes". Uma viagem única, no gênero, que
repercorre as etapas de um caminho infinito visando à descoberta do nosso
planeta, representado, em maneira real, interpretado através de símbolos e
ícones mitológicos, religiosos, etnográficos, botânicos e zoológicos. A
editora De Agostini festeja seus primeiros cem anos de atividade "ao
serviço do homem e da ciência", com duas iniciativas: um precioso volume,
contendo mais de duzentas imagens, e esta exposição milanesa, revelando um
universo de fábula, permeado de fascinantes nomes e segredos a serem
desvendados. Astrolábios, globos celestes, esferas armilares, planisférios,
cartas náuticas e terrestres, plantas marmóreas da antiga Roma (do III século
d.C.), manuscritos esculpidos com tinta sobre pergaminho, incisões sobre
madeira e tábuas de cobre miniado. Encontram-se igualmente, curiosos mapas
gravados sobre pele de bisão, que pertenceram à tribo dos Quapaw, (América do
Norte), ou desenhados sobre cortiças de bétula. Além desses, globos
terrestres confeccionados à maneira da sanfona (Carl Bauer, 1825), com imagens
de papel cuchê em versão de bolso, contidos dentro de estojos esféricos, em
pele de peixe. O secretário da Cultura da prefeitura de Milão, Salvatore
Carrubba, lembrou que a exposição representa o espelho da evolução
científica do homem, "daquela sua extraordinária capacidade de acompanhar
e favorecer a pesquisa - afirmou - com a construção de instrumentos sempre
mais refinados e precisos, unida à habilidade manual e artesanal de grandes
artistas". A cartografia como símbolo de conhecimento e de poder, de
domínio e controle: militar, estratégico, infalível, para inspecionar
territórios, evidenciar pontos de força e pontos fracos dos inimigos. Para
atacar e se defender, as cartas e os mapas serviram, ao longo dos séculos,
igualmente, para gerenciar territórios. Interessantes "cartas
temáticas" estão zelosamente guardados na Biblioteca Ambrosiana de Milão
e são assinadas por Leonardo da Vinci. O grande cientista se interessou
pessoalmente, transcrevendo o sistema hidrográfico e hidráulico da cidade. Nem
todos sabem que as cartas podiam esconder outros significados, entrando em
relação estrita com o mundo desconhecido, de maneira fantasiosa e imaginária.
Aconteceu com o mapa de Salteriò, o mais antigo do ocidente cristão (século
VIII d.C.). No centro do mapa, Jerusalém, cidade símbolo, coração do
universo. Conta-se que as cartas murais e os globos eram considerados documentos
fundamentais para a educação dos jovens príncipes nos séculos XVI e XVII,
representando os primeiros contatos com seus domínios; terras, propriedades,
cidades sobre as quais, um dia, teriam governado. Freqüentemente as cartas
transformavam-se em bem precioso, servindo para adular e cortejar os senhores
durante a Renascença. De maneira concreta e persuasiva os cartógrafos
mostravam a amplitude do poder deles. Todos os meios eram justificados e se
tornaram, ao longo dos tempos, extremamente eficazes. Globos, modelos
tridimensionais, mapas pintados sobre telas ou tecidos, gravuras coloridas
manualmente, outras realizadas com latão, pedras e mármore. Um exemplo para
todos é o "Globo celeste de Vaduz" (que pertence ao Príncipe do
Lichtenstein), realizado em latão fundido, em relevo, gravado e burilado,
folheado a ouro, com inscrições helicoidais. Mas a mostra e o volume da De
Agostini visam igualmente o futuro, o espaço cibernético e tecnológico que
revolucionou, a partir de 1972, a cartografia e a observação da Terra.
Trata-se, de fato, de um ano importante, pois, à época, foi colocado em
órbita o primeiro satélite civil, (Land Sat) para a colheita de dados sobre a
superfície terrestre. Automaticamente o passado se anulou, só nos fica a
memória, a lembrança como eco longínquo. Hoje os meios para medir a Terra
são extraordinariamente perfeitos, utilizando-se modernas experimentações,
como raios infravermelhos, microondas, radiações invisíveis. O mundo muda,
perseguindo realidades virtuais, mas restam-nos os sonhos, os de sempre: a busca
espasmódica de um além misterioso e desconhecido, a ser desvendado e
desmascarado. "Fatti non foste a viver come bruti, ma per seguire virtute e
conoscenza" (Vocês não foram feitos para viver como brutos, mas para
seguir virtudes e conhecimentos), como cita o Ulisses de Dante. Realidade
insuprimível, necessária; sentimento que nos envolve, ao qual o ser humano, ao
longo dos séculos, nunca opôs resistência. Intrépido, atrevido, impávido,
corajoso? Não, simplesmente homem.
As fotografias são da ADNKronos
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