O
acadêmico Antônio Olinto completou 80 anos, recentemente. Nas oito décadas
bem vividas e laboriosas, soube transformar cada minuto vivido numa pérola de
cultura, precioso legado para a humanidade. Além da genialidade no campo
literário, outros talentos, como a pintura, preenchem o viver cotidiano e ativo
deste homem que sabe vencer o tempo, dominá-lo, multiplicá-lo, facetá-lo e
valorizá-lo. Exercendo múltiplas atividades, quer seja na Academia Brasileira
de Letras – destacando-se sobremaneira nas atividades exercidas, assim como na
elaboração do excelente periódico da academia, Jornal de Letras – no jornal
editado para a comunidade brasileira em Londres, o Brazilian Gazette, na
preocupação constante em divulgar a cultura, em todas as suas formas, nos 25
anos dedicados à crítica literária, num trabalho contínuo, em jornais
diversos (o que nos renderia, se publicados, 18 volumes de 300 páginas cada),
nos 44 livros escritos, traduzidos em dezenove idiomas, italiano, sueco,
inglês, grego etc. Seu livro A casa da água está sendo editado na China pelo
governo daquele país, edição de 300.000 exemplares, destinados,
essencialmente, a cursos e bibliotecas. Antonio irá a Pequim para o
lançamento, conferenciando sobre o mesmo e sobre a literatura brasileira.
Convidado pelo Secretário das Culturas, Senador Artur da Távola, Antonio
assumiu em 15 de Janeiro, o cargo de Diretor Geral do Departamento de
Documentação e Informação Cultural e das Bibliotecas do Estado do Rio
pertencentes à Prefeitura dentro do Município do Rio de Janeiro, dirigindo e
visitando, assiduamente, 30 Bibliotecas, cujo acervo total é de quinhentos
livros. Vinte e uma bibliotecas estão instaladas em prédios da prefeitura –
alguns alugados – e nove volantes, funcionando em kombis, destinadas a levar a
cultura a zonas desprovidas, como alguns bairros e favelas. Estas viaturas
possuem prateleiras, mesa e quatro cadeiras, um toldo simpático, e dispõem de,
aproximadamente, 1.500 livros, atingindo, três vezes por semana, durante três
semanas seguidas, um destino específico. Barra, favela da Rocinha etc. Dos
quinze mil livros distribuídos entre as nove kombis, os usuários contam com um
acervo de livros infantis, romance e literatura, História – bem facilitada
– História do Brasil, didática, português e matemática para o primeiro
grau, além das revistas Época, Veja e Isto É. As Kombis recebem nomes de
escritores ilustres, como as chamadas de Rubem Braga, Guimarães Rosa, João
Antônio, Plinio Doyle etc. No dia 17 de Maio, durante a próxima Bienal do
Livro, uma das kombis estará no centro de exposições. Folhetos livros e mapas
detalhando o posicionamento das 30 bibliotecas espalhadas pelo Município serão
distribuídos. Assim dar-se-á início à campanha de implantação de
Bibliotecas por toda a parte. Antonio quer ampliar para cinqüenta o número de
Bibliotecas nos próximos dois anos. Na sala da Secretaria, há uma planta do
Município, onde estão assinaladas em vermelho as já existentes. Nosso
acadêmico diz, sorridente: “Eu fico como um mágico, distribuidor de livros,
feliz diante de suas conquistas”. E destaca as próximas a serem instaladas, a
de Divinéia, não muito longe de Santa Cruz, a do Dique, no extremo norte da
cidade do Rio, quase na fronteira com Duque de Caxias e, talvez a de Inhaoíba,
atendendo à solicitação de um vereador local. Só no Município temos 30
Bibliotecas quando o Estado do Rio todo conta com oito apenas Alguns bairros
são prestigiados com quatro ou cinco Casas de Livros, como Botafogo, Santa
Teresa, Leblon, Copacabana e Ilha do Governador. Outros não possuem nenhuma. O
plano cultural de Antônio Olinto é o de levar a Biblioteca para o povo. Já
tendo visitado o Complexo do Alemão, pretende em seguida, inaugurar outras, na
Rocinha, em Bangu, no Meier e na Barra. As Bibliotecas existentes funcionam das
nove às dezoito horas, são confortáveis e bem equipadas, contam com
bibliotecários e secretários, além de pessoal especializado para lidar com
crianças, livros, revistas e músicas infantis. Há muita procura por livros,
principalmente, livros infantis. O Jornal O Globo distribui, diariamente, quatro
exemplares para cada Biblioteca. Muitas pessoas não podem comprar jornais e
chegam às Bibliotecas para lê-los. Muitos adolescentes, principalmente os que
moram no subúrbio, vêm apenas para agradecer: “Eu pude estudar e me formar
graças aos livros desta Biblioteca.” Estas casas são a base da Educação e
da Cultura. Problemas existem, naturalmente, por exemplo, ratos, infiltrações,
necessidade de reforma etc. O trabalho é árduo e prazeroso, ao mesmo tempo.
Bibliotecas para o povo, enfatizando as favelas, eis o plano de Artur da Távola
e Antonio Olinto. Eles falam a mesma língua, se entendem muito bem e se
identificam como defensores e divulgadores da Cultura. César Maia, nosso
prefeito, já aprovou esta idéia das Bibliotecas para todos. O que dificulta o
passo é a burocracia. O Secretário das Culturas, Artur da Távola anuiu ao
projeto de implantação de quiosques de livros disseminados pela cidade.
Antônio pretende estabelecer contato com os responsáveis pelas concessões da
atividade de vendedores de rua. Como os livros não pagam imposto, esses
camelôs que recebem em média, três reais por livro, poderiam pagar um pequeno
imposto e legalizar sua situação. Segundo Antônio Olinto, “do jeito que
está dá-se uma brecha para a corrupção, o governo não recebe imposto e as
pessoas de menos posse perdem a oportunidade de adquirir livros. Portanto, Artur
e eu faremos uma coisa bonita: Quiosques na cidade!” Temos testemunhado a
forma como os vendedores de rua têm seus livros apreendidos. Na rua Duvivier,
por exemplo, a polícia especializada passou, sob o comando de duas bravas
senhoras, recolhendo livros de forma grosseira, jogando-os com desprezo e
violência para cima de suas viaturas, danificando-os, sem deixar nas mãos do
livreiro, qualquer documentação ou listagem, que lhe permitissem
recuperá-los. Como pode uma pessoa simples, sem estudo ou qualquer condição
de adquirir um bom emprego, labutar para sobreviver? A burocracia avassaladora
impede ao indivíduo até mesmo de agir conforme as regras. Para obedecer é
preciso conhecer. E quem explica? Após quantas filas, em que departamento?
Quanto às favelas, algumas são habitadas por 346 mil famílias. A do Complexo
do Alemão possui uma população acima de quinhentos mil habitantes. A Rocinha,
quinhentos mil. Juntas somam mais de um milhão de pessoas. Nesta última
trabalham advogados, funcionam os bancos Itau e Unibanco, há farmácias, Mc
Donalds, e muitas lojas. É desejo de Antônio Olinto selecionar, para a
Biblioteca local, fonte de cultura e de trabalho, funcionários da própria
favela. “Com certeza haverá jovens formados em biblioteconomia ali residindo.”
Para alcançar seu objetivo de chegar a cinqüenta bibliotecas, Olinto explica
que, em geral, os imóveis pertencem à Prefeitura, como todas as casas da Lapa
e da Praça Tiradentes, faltando, unicamente, o recheio; estantes, computadores,
TV de 29 polegadas, mesas, cadeiras e, de início, 1.500 livros, em cada uma
delas. O custo é baixo se pensarmos em uma grande empresa como a Bradesco.
Estão tamb[em subordinados a Antônio Olinto o Museu da Cidade, no Parque da
Cidade, o Eco Museu, em Santa Cruz, e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro, na Cidade Nova. Para doações de Livros, assim como doações de
terrenos ou casas, os interessados podem procurar o Departamento Geral de
Divulgação Intelectual, estabelecido no Centro Administrativo São Sebastião:
Telefone: (21) 273-9390 .