Minha
ligação com a Itália é antiga. Originário de uma família muito católica
do interior de Minas – meu tio e um primo foram padres – entrei no
seminário de Belo Horizonte. Eu fui um dos escolhidos para dar prosseguimento
aos meus estudos num colégio de Roma e, por isso, viajei para São Paulo para
aprender a língua italiana. Comecei a ler e falar italiano, era lá que eu ia
estudar. Infelizmente naquele ano, 1935, houve a invasão da Abissínia por
parte de Mussolini e minha viagem foi adiada. Em 1937 deixei a batina, mas a
Itália já despertara em mim a sua importância. O lado cultural me foi
iluminado por Manuel Bandeira. Certo dia, cheguei perto dele e cumprimentei-o
«Bom dia, poeta!» e ele me respondeu «Poeta? Poeta é Dante», não há outro
Poeta a não ser Dante. Esta frase nos leva a Itália. É a Itália, com sua
língua. Tudo isso foi criando em mim entusiasmo e deferência, até que eu pude
conhecê-la, já de adulto: Roma, Turim e Milão. Em Milão está a minha
editora, Jackabook, que já editou cinco livros meus. Em Turim fui chamado como
palestrante pela Fundação Grinzane Cavour, num encontro no qual participaram
oradores dos cinco continentes. Participei de inúmeras conferências em Roma e
em Nápoles. Certa vez, Charles Wagley, um professor norte-americano que dirigia
o setor latino, me perguntou: «Você está com Moscou ou com Hollywood?», eu
respondi: «Nem com Moscou, nem com Hollywood, eu estou com Roma!» A pergunta
referia-se ao fato que os brasileiros eram vistos ou como esquerdistas ou como
filo americanos. Eu quis mostrar-lhe, assim, minha essência cultural e
espiritual