O milagre de San Gennaro

Edoardo Pacelli

O Cardeal Giordano com a ampola que contem o sangue liquefeito.Mais uma vez aconteceu, em Nápoles, o milagre de San Gennaro. A cerimônia teve início neste último domingo, às nove horas da manhã, na Igreja dedicada ao Santo, quando o Cardeal Giordano extraiu de um cofre, mantido atrás do altar da capela da Adoração, a ampola que contém o sangue coagulado de São Gennaro. A ampola foi colocada dentro de um ostensório e, como de hábito, a cada 19 de setembro, oferecida às invocações das piedosas mulheres de São Gennaro. Essas mulheres reúnem-se em torno da peça, incitando, veementes, o santo aos milagres, que se iniciam com o sangue que se liquefaz: “San Gennaro, meu poderoso, ora por nós, ora para tanta gente...”. Logo a ampola, encastonada numa esmeralda, mudou de cor. Os veteranos do milagre sorriem trocando olhares de cumplicidade, pois quanto mais rápido o milagre acontece, maior sorte traz à cidade e aos napolitanos. Mas o sangue deve derreter-se completamente. É sabido que, se há atraso na sua liquefação, alguma tragédia atingirá a cidade de Nápoles, como já ocorreu em outras ocasiões como bombardeamentos, terremotos, a erupção do Vesúvio e até o rebaixamento do time do Nápoles para a segunda divisão. As litanias continuam, quase como um desafio entre as mulheres e o santo, até que, por volta das 9h e 55, um pano branco é agitado liberando a ovação da multidão. Mas isso é apenas o início, pois o Cardeal preparou-se para a procissão que levou o sangue e o busto de São Gennaro até o altar-mor. Os baldaquins, contendo o busto e o ostensório, são acariciados, beijados, suplicados pelo povo. Ouvem-se os mais estranhos e íntimos pedidos de graças. Logo atrás, acompanham-nos as principais autoridades, a senhora prefeita e o senhor governador da região, seguidas das demais. Os fiéis são convidados a chamar e a invocar o Santo, para que alivie as dores que afligem o mundo, inclusive, o martirizado Iraque e as voluntárias italianas, recentemente seqüestradas naquele país. Ao agitar-se do pano branco, fogos são deflagrados, embelezando o céu e, no Castel dell’Ovo os canhões disparam 21 tiros. A cidade torna-se feliz. Desta feita, o Santo não se fez esperar.