Alguns
historiadores literários, como, por exemplo, Alexandrian, opinam que as mulheres
não conseguem apresentar uma obra instigante ― exemplifica-se com Sade, em
Juliette ― porque o erotismo feminino é menos cerebral do que o dos homens.
Afirmam que as experiências sexuais das mulheres podem até ser mais profundas do
que as dos seus parceiros, mas elas não têm, em contrapartida, a aptidão, para
convertê-las em palavras. Alexandrian poderia até ter alguma razão, mas aí
encontramos um divisor de águas, A cabeceira dos anjos, de Marcia Agrau: a
autora apresenta-nos uma obra que o desmente e os seus seguidores, pois seus
poemas são “instigantes” e, mais ainda, têm um ponto de vista único, pois só
poderiam ter sido escritos por uma mulher, com seu olhar peculiar, imanente à
alma feminina. Nenhum homem tem condições de escrever acerca da alma erótica
feminina, com a mestria de Marcia Agrau ― A cabeceira dos anjos, um livro
emocionante, tocante, pois celebra a paixão sentimento, e vai além, enfatizando,
enaltecendo a sensação física. O livro de Marcia Agrau é erótico, mas não é
depravado, não é pornográfico, pois essa escritora não aprendeu a arte do
escrever mal, ela é uma criadora de textos de qualidade. O erotismo de Marcia é
expressão artística e cultural, e ela jamais esquece da raiz dessa palavra,
Eros, o deus do amor. Lendo os poemas dessa admirável poetisa, sentimos a
coragem de sua poesia, não teme se expor, não teme mostrar sua sensualidade, sua
potente sexualidade, seu todo erótico, uma marca da mulher dos séculos XX e XXI.
Marcia Agrau, uma jovem senhora, comprova que sua poesia foi construída através
de toda uma vida vivida, mostra-nos todas as suas feridas, todas as suas
medalhas, derrotas e vitórias, tornando-se um paradigma, um modelo, um padrão do
que deve ser a poesia erótica. Marcia Agrau, uma poetisa madura, feita, pronta,
e, com esse seu último livro, assume, sem dúvida, um lugar de destaque no
panteão da Literatura Brasileira, e, com galhardia, representa o que de melhor a
literatura erótica tem-nos a oferecer. Assim, leitor(a), adquira este livro, vá
para o recesso de seu lar e leia os poemas dessa maravilhosa poetisa, que nos
permitem penetrar nos mundos insondáveis do espírito feminino, do erotismo
feminil. Carlos Alberto dos Santos Abel Doutor em Letras Vernáculas
(Literatura Brasileira) pela UFRJ