Magnani: a diva maior do cinema italiano

Carlos Augusto Brandão, para a Italiamiga

Anna MagnaniNo próximo dia 7 de março, a pisciana Anna Magnani completaria 100 anos. Nascida em Roma em 1908, a atriz foi um dos nomes mais importantes da cinematografia italiana e universal. Magnani começou a trabalhar muito cedo, inicialmente cantando em cabarés e nightclubes e, embora tenha tido um pequeno papel num filme mudo em 1920, seu nome apareceu pela primeira vez nos créditos em Scampolo, de Augusto Genina em 1928. Após trabalhar com Genina atuou em alguns outros filmes , mas só se tornou mais conhecida em 1941 em Teresa Venerdi, dirigida por Vittorio De Sica. Mas o grande momento em que explodiu para a fama aconteceu em 1945 em Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, filme marco do neo-realismo italiano, movimento que levou as câmeras para as ruas e com elenco composto em sua grande parte, por atores desconhecidos ou amadores. Após a filmagem, viveu com Rossellini por alguns anos, até o rumoroso caso do diretor com Ingrid Bergman. Conforme dito por muitos críticos da época, Magnani tinha mesmo a cara do povo e assim, ninguém melhor do que ela para interpretar uma mulher comum das ruas da Itália. O filme, sobre a resistência aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, é um drama poderoso filmado com uma técnica não convencional. Trouxe aos olhos dos espectadores uma linguagem cinematográfica nova, original e totalmente despida de preciosismos estéticos. Ao ser exibido – e triunfado em Cannes – levou cineastas, críticos e público à certeza de que algo de novo surgia no mundo cinematográfico. E muito desse sucesso se deve à interpretação magnífica da grande atriz, que protagonizou uma das cenas mais famosas do cinema, a antológica seqüência em que tenta acompanhar o carro que levava seu marido preso pelos alemães e é abatida pelas costas por um dos soldados nazistas. Um outro grande sucesso foi Belíssima, de Luchino Visconti (1951) em que viveu Madalena Cecconi, uma mulher também do povo, que sonhava em transformar sua filha pequena numa estrela de cinema. O filme faz uma reflexão profunda sobre a indústria do entretenimento, ressaltando a dualidade do dilema da mãe entre o desejo de ter uma filha famosa e a consciência do custo a pagar pela celebridade. Em 1955, Magnani ganhou o Oscar de melhor atriz por seu trabalho como Serafina Delle Rose, em Rosa Tatuada, de Daniel Mann, baseado em Tennessee Williams. Totalmente descrente que pudesse ganhar o cobiçado prêmio, Magnani não compareceu à cerimônia e só soube do resultado quando foi acordada, no meio da noite, por um jornalista para lhe dar a notícia. Outro papel marcante foi Em Mamma Roma (1962) de Píer Paolo Pasolini, no qual interpreta uma prostituta que precisa largar a profissão para ter a guarda do filho, um garoto problemático. Magnani trabalhou também com Jean Renoir, em A Carruagem de Ouro, em que o consagrado diretor francês faz uma homenagem à Commedia dell’Arte. No filme, a atriz acompanha uma trupe de comediantes que viaja a uma colônia espanhola nas Américas. Num papel próximo do cômico, Magnani demonstra mais uma vez, sua grande versatilidade, que fazia com que transitasse com extrema naturalidade por todos os gêneros do cinema. Seu rosto forte conseguia expressar, num mesmo trabalho, emoções contraditórias como o medo, a alegria, a raiva, a ternura e o amor. Entre muitos outros filmes, trabalhou em Abbasso la Ricchezza (1946), de Gennaro Righelli; l’Onorevole Angelina (1947), de Luigi Zampa; e Assunta Spina (1948), de Mario Mattoli. Infelizmente a grande atriz não teve, na vida pessoal, as mesmas alegrias e recompensas que obteve com seu trabalho nas telas. Casou muito cedo, nos anos 30, com Goffredo Alessandrini, uma união que pouco tempo depois teve um processo de anulação. Seu único filho, fruto de um romance com o ator Massimo Serato, era portador de poliomielite e Magnani dedicou grande parte do final de sua vida cuidando dele. Sua última aparição no cinema, como ela mesma, foi em Roma, de Federico Fellini em 1972. No ano seguinte, Magnani morreu aos 65 anos de um tumor no pâncreas, deixando nos espectadores uma saudade eterna e uma certeza que dificilmente outra atriz viveria com tanta veracidade os personagens inesquecíveis que interpretou.