Ludwig, do grande cineasta Luchino Visconti, foi lançado em DVD pela Versátil
numa edição de luxo. O maior mérito desse lançamento é sua apresentação em
versão restaurada e completa com as quatro horas que o grande mestre italiano
queria. Visconti, que morreu em 1976, começou a ter problemas de saúde
justamente quando estava fazendo Ludwig. Ele havia tido um enfarte e depois
muitos aborrecimentos com os produtores, que haviam reduzido seu filme para uma
versão comercial. Na época do lançamento, Ludwig foi entregue ao público em duas
versões: uma para a Alemanha, com 137 minutos, e outra para o circuito
internacional – incluindo o Brasil – com cerca de 180 minutos. Aqui o filme foi
lançado com o título Ludwig, a Paixão de um Rei. Em 1980, num reconhecimento ao
grande cineasta, um esforço conjunto dos integrantes do filme, entre eles atores
e roteiristas, possibilitou a realização de uma cópia integral do filme. Eles
compraram os direitos e lançaram o longa-metragem na versão idealizada por
Visconti. Ludwig é o último filme da chamada trilogia alemã de Luchino Visconti
(iniciada por Os Deuses Malditos, de 1969 e Morte em Veneza de 1971). A produção
França/Itália/Alemanha, de 1973, acompanha a trajetória de Ludwig II, o rei da
Baviera desde a sua coroação com menos de 20 anos, até sua morte prematura aos
40 anos de idade em circunstancias até hoje misteriosas. Segundo uma das versões
ele teria se suicidado afogando-se num lago. Noutra, ele teria sido assassinado.
Visconti reproduz em seu filme as principais fases da vida do chamado rei louco
da Baviera: sua figura de mecenas do compositor Richard Wagner que, protegido
por ele, criou duas obras primas – O Anel do Nibelungo e Tristão e Isolda; a
construção dos famosos castelos como o de Neuschwanstein; sua paixão platônica
pela prima, Elizabeth, imperatriz da Áustria; e sua homossexualidade – noivo de
Sophie, irmã de Elizabeth, teve casos com empregados e, segundo consta, até um
romance com o ator Joseph Kainz. O elenco internacional inclui Helmut Berger,
Romy Schneider, Trevor Howard, Silvana Mangano, Helmut Griem, Gert Frobe e
outros. Os grandes destaques são Howard , que faz Wagner, e Schneider, que
interpreta a Imperatriz Elizabeth, da Áustria. A atriz já havia interpretado
Sissi, uma biografia romanceada da imperatriz austríaca em 55 que rendeu mais
três filmes dela com o personagem. A interpretação de Berger, que vive o
personagem título é considerada por muitos críticos, muito exagerada, talvez
agravada pelo excesso de closes no personagem. Na versão que circulou para a
Itália, Berger foi dublado pelo ator italiano Giancarlo Giannini. A versão em
DVD, que chega agora ao mercado, traz, além do filme, um vídeo sobre os castelos
do rei e textos sobre sua relação com o famoso compositor alemão. Há ainda
entrevistas com o crítico musical João Marcos Coelho sobre a música do filme e
do crítico de arte Antonio Gonçalves Filho sobre os quadros que inspiraram
Visconti na realização de Ludwig. Os extras da edição são completados com
bastidores das filmagens e o processo de restauração. Embora Ludwig não seja
considerado o melhor dos seus filmes, a assinatura do inesquecível cineasta
Lombardo está lá no requinte na encenação, nos ambientes luxuosos, no cuidadoso
figurino (indicado ao Oscar) e ainda na excelente fotografia de Armando Nunnuzzi
e montagem de Ruggero Mastroianni. É bom sempre lembrar, no entanto, que o
cineasta que fez a obra prima O Leopardo - que além de um retrato da decadência
da nobreza italiana, realizou um excepcional trabalho de reconstituição política
e sociológica do período da reunificação italiana sob Garibaldi – não precisaria
ter feito mais nenhum filme histórico. Mas sua obra ainda inclui clássicos como
Obsessão, Rocco e seus Irmãos, Vagas Estrelas da Ursa Maior, Boccacio 70, os
dois primeiros da trilogia Deuses Malditos e Violência e Paixão , dentre outros.
O fato é que um filme como Ludwig certamente não seria realizado nos dias de
hoje porque, entre outros motivos, cineastas como Visconti não existem mais.