"Lápis
e cinzel... são os instrumentos que levam à imortalidade". Essa
afirmação é de Antonio Canova, (1757 - 1822), o genial artista que se coloca
entre os expoentes máximos do neoclassicismo italiano. Pintor e escultor, ao
mesmo tempo, político engajado na defesa e na conservação do patrimônio
histórico e artístico de seu tempo, envolvendo-se nos debates culturais e
políticos. A exposição "Canova: o homem, o artista, o gênio",
aberta desde novembro passado no Museu Cívico de Bassano del Grappa permaneceu ativa até 12 de abril de 2004, é dedicada a ele. Possagno e
Bassano são localidades, a primeira onde o artista nasceu sendo que, nas duas,
formou-se cultural e artisticamente, lugares estes dos afetos mais profundos e,
sobretudo, lugares que guardam a maioria dos testemunhos artísticos de Canova.
Trata-se da primeira mostra antológica que as cidades de Bassano e Possagno
dedicam a seu gênio, para celebrá-lo. As duas lindas cidades custodiam a
exímia herança deste mestre, tanto a artística quanto a espiritual. A exposição permitirá de investigar todas as
diferentes formas da arte "canoviana", graças à
colaboração
do Ministério dos Bens Culturais e da Região Veneto. Nesta ocasião
o Museu Estadual Ermitage de São Petroburgo emprestou à mostra sete
estátuas da mais importante coleção de mármores canovianas. A exposição é
composta por 400 obras do Canova, focalizando a produção artística
poliédrica e a personalidade do artista, ilustrando todos os aspectos de sua
arte e as diferentes fases de seu trabalho: o estudo, a inspiração, o momento
psicológico, o dilema, a busca da beleza eterna e universal, o homem, sua
história pessoal e os segredos de sua oficina. Mármores, gessos, terracotas,
monocromias, quadros, têmperas, incisões e cartas, aliados a obras
fundamentais do maestro, pela primeira vez, apresentadas em sua terra natal,
junto a outras criações, jamais expostas na Itália, como a solene Paz
de Kiev, a sublime Venus de Leeds, a Polymnia de Viena e a Ninfa
dormindo de Londres. As trinta obras expostas, obras primas notabilíssimas
e admiradas desde sempre, guardam uma história, cada uma falando do artista,
personagem sempre em busca da perfeição. O Ermitage empresta, entre outras, a
estátua da Magdalena penitente, a Dançarina com as mãos nos quadris,
o Busto monumental de Canova, primeira de suas obras a entrar na Rússia.
Na exposição pode ser
admirado o primeiro esboço
de uma das mais célebres criações: o grupo das "Três Graças",
exposto em Edimburgo, em 1996 e em Turim, grupo que Canova esculpiu em mármore,
em duas versões. O esboço, descoberto há alguns anos, foi adquirido pela
prefeitura de Bassano e poderá ser admirado pelo público por ocasião desta
exposição sobre o artista. Trata-se de três figuras indistintas "que
se abraçam unidas no fugaz movimento da dança. Modeladas quase tentando
capturar uma visão fugiente, encantariam os olhos e ocupariam a mente, apesar
de ser, apenas um esboço preparatório", escreve o historiador de
arte, o inglês Hugh Honour. Entretanto, o ponto chave da reconstrução da
figura de Canova será o diário "Quadernos de Viagens, 1779-1780".
Nele o artista descreve os momentos cruciais, as sugestões, os encontros, os
estados de ânimo que o acompanharam durante sua primeira viagem, de Veneza a
Roma, passando por Ferrara, Bologna e Firenze, descendo até Nápoles, com
visitas a Pompéia e Ercolano. Em Roma, Canova abriu seu atelier que não quis
abandonar nem sequer quando Napoleão o convidou a transferir-se para a França:
"Roma, mãe e sede antiga das artes, é o único asilo para um
escultor", escreveu ele ao general Duroc, como resposta ao convite
de Napoleão.