O italo-brasileiro Adolfo Celi

de Carlos Augusto Brandão para ITALIAMIGA

O ator Adolfo CeliO cinema brasileiro recebeu, desde o seu nascimento, uma enorme participação de diretores, atores, atrizes, roteiristas, fotógrafos e músicos italianos. Os primeiros filmes brasileiros exibidos, aqueles que marcam o nascimento do nosso cinema foram, segundo as pesquisas mais recentes, filmados e mostrados pela primeira vez ao público pelo napolitano Vittorio di Maio em 1o de maio de 1897, no Cassino Fluminense, em Petrópolis. Até há pouco tempo atrás, essa primazia era dada aos irmãos Afonso e Pascoal Segreto, também napolitanos. De uma forma ou de outra, portanto, os nossos primeiros passos no cinema foram dados por italianos de origem e brasileiros de adoção.

O piemontês Vittorio Capellaro, um dos pioneiros mais importantes do nosso cinema, aqui viveu e morreu após ter feito sete longa-metragens, construído um estúdio completo em São Paulo e ter sido vítima de uma das maiores injustiças que temos notícia jamais feita a um cineasta brasileiro. Aliás, a vida e a obra de Capellaro merece um artigo especial, que ficaremos devendo aos leitores de ITALIAMIGA.

Com o passar dos anos, os créditos que apareciam nas telas eram um desfilar sem fim de nomes como Amico, Andalò, Attili, Basaglia , Belli , Bonfioli, Campogalliani, Cardinali, Carmineo, Carrari, Castelaneto, Cerri, Civelli, Comelli, Dandini, D’Aversa, Del Pichia, De Robertis, Lambertini, Lazaro, Lazzarini, Lombardi, Magliani, Mancini, Marracini, Marzullo, Mastroianni, Meliande, Molo, Napolitano, Padovani, Pichi, Pieralisi, Remani, Rogatto, Rossi, Salce, Steno, Talamo, Tebaldi, Tonacci e Traversa, todos nascidos na península ; milhares de outros, esses já "oriundi", filhos, netos e bisnetos de imigrantes vindos de toda a Itália são hoje nomes que, de tão familiares, já os pensamos de origem nativa.

Gianni Ratto, por exemplo, um milanês com sólida formação intelectual e artística, vem para o Brasil a convite de Maria Della Costa ; aqui , ele ajuda até a criar um Departamento de teatro no MAM de São Paulo e, após alguns anos de enorme contribuição para a nossa vida cultural, volta para a Itália. Como ele, muitos outros artistas para cá vieram : ficaram alguns, foram-se outros. Esse é o caso de um dos maiores talentos que o teatro e o cinema italianos já nos mandaram em qualquer época: o siciliano Adolfo Celi , paulista por adoção, mesmo que somente temporária.

Celi , nascido em Messina em 1922, teve a sua formação teatral na Academia Nacional de Arte Dramática de Roma, onde diplomou-se em 1945. Logo começou a trabalhar como ator e diretor teatral, mas também voltou-se para o cinema, tendo atuado em Un Americano in Vacanza, de Luigi Zampa, em 1946 e Proibito Rubare, o filme de estréia de Luigi Comencini, que veio a ser um dos diretores mais importantes do movimento neo-realista italiano.

O Teatro Brasileiro de Comédia – TBC – que Franco Zampari havia fundado em 1948 em São Paulo, de imediato "importa" ou contrata profissionais da qualidade de Luciano Salce, Ruggero Jacobi, o polonês Ziembinski e, entre eles, Adolfo Celi, que logo se tornou um dos nossos diretores teatrais mais importantes : encenou peças que mudaram a gramática do teatro brasileiro, como Arsênico e Alfazema, Antígona , Seis personagens à procura de um ator e A longa jornada de um dia para dentro da noite, de O’Neil. Não demorou muito para formar sua própria companhia de teatro, junto com Paulo Autran e Tônia Carrero, a Tônia-Celi-Autran.

Em 1949, o mesmo Franco Zampari, apoiado por diversos industriais paulistas, resolveu criar um estúdio cinematográfico brasileiro que modernizasse a nossa produção, elevando-a aos mesmos níveis do cinema de Hollywood. Importou técnicos, roteiristas e equipamentos de última geração, construiu um enorme estúdio em São Bernardo do Campo e iniciou a maior aventura que o nosso cinema já havia testemunhado. Alberto Cavalcanti , o brilhante diretor brasileiro residente na Europa, onde era reconhecido como um dos melhores documentaristas do cinema, foi designado como uma espécie de "gerente artístico" do novo estúdio paulista.

Mesmo assim, o prestígio de Adolfo Celi junto a Zampari e aos demais membros da Vera Cruz era tal, que ele foi escolhido para dirigir Caiçara (1950), o primeiro filme feito pela Vera Cruz. Locado em Ilhabela e trazendo Eliane Lage no papel principal, Caiçara não escondia em sua estética toda uma influência neo-realista. Em 1952, Celi voltou a dirigir um filme para a Vera Cruz, Tico-tico no fubá, com Tônia Carrero e Anselmo Duarte, este no papel de Zequinha de Abreu. Apesar da fraca estrutura de distribuição/exibição – razão principal da falência em que a Vera Cruz iria cair em 1955 , esse filme de Adolfo Celi talvez tenha sido, junto com Os Cangaceiros e Sinhá-Moça , o filme de maior sucesso da frustrada experiência da Vera Cruz.

Em 1961, Celi retornou para a Itália, onde retomou o seu trabalho de ator e diretor de teatro; ao mesmo tempo, iniciou uma carreira internacional de sucesso, com participação em filmes como Este mundo é dos loucos (1966), de Phillipe de Broca, Brancaleone nas cruzadas (1970), de Mario Monicelli, O fantasma da liberdade (1974), de Luis Buñuel e como um arqui-vilão em 007 contra a chantagem atômica(1965), de Terence Young. Em 1968, co-dirigiu, com Vittorio Gassman, O Álibi.

Adolfo Celi, fonte de uma das maiores contribuições para o teatro e para o cinema brasileiros morreu em 1986, na Itália. Seu nome, no entanto, está para sempre ligado às artes brasileiras.