Il mio viaggio in Italia

Filme de Scorsese é uma homenagem aos grandes nomes do cinema italiano

Carlos Augusto Brandão para a Italiamiga

O diretor Martin ScorseseO diretor ítalo-americano Martin Scorsese nasceu em Nova York onde viveu todos os seus anos de formação no centro da comunidade, conhecida como Little Italy. No início da sua juventude desejava ser padre mas preferiu o cinema indo estudar na Universidade de Nova York onde realizou seu primeiro filme - o curta The Big Shave - que ganhou o prêmio de melhor filme experimental do ano. A partir daí Scorsese construiu uma carreira de inúmeros sucessos com filmes como Motorista de Taxi (Taxi Driver), Touro Indomável, O Rei da Comédia e muitos que remontam a suas raízes sicilianas, como Os Bons Companheiros e Cassino. Seu mais novo longa é um verdadeiro painel sobre a história do cinema italiano pegando o período que vai dos anos 40 aos 60 com os nomes mais importantes daquela fase áurea como Rossellini, Antonioni, Visconti, De Sica e muitos outros. Mais do que um painel, o filme de Scorsese é um hino de amor ao cinema italiano e ao neo-realismo. Como diz Scorsese em determinado momento do seu filme, ele assistiu ao longo de sua vida a todas essas produções pela televisão e elas representaram para ele uma possibilidade de conhecer melhor a história da Itália e a vida dos seus ascendentes: "quando criança eu tinha muitas questões a serem respondidas e descobri que eu teria essas respostas através do cinema; assim, foi através dos filmes italianos daquela época que eu consegui descobrir a minha própria família, quem eram e de onde vieram". conta o diretor. Il Mio Viaggio in Italia foi lançado no último Festival de Cannes e encantou os espectadores que tiveram oportunidade de ver ou rever cenas de um cinema que influenciou toda uma geração de cineastas no mundo todo; na verdade, Roberto Rossellini ajudou a criar uma linguagem nova de cinema quando realizou Roma, Cidade Aberta, considerado o marco do movimento. Realizado em 1946, esse filme é o ponto inicial dessa escola que revolucionou a forma e o conteúdo dos filmes, atingindo o seu ponto máximo com Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica. Assim, nessa viagem de Scorsese pela filmografia da Itália podem ser vistas inúmeras cenas de , entre outras obras primas, Obsessão e Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti ; A Aventura e A Noite, de Michelangelo Antonioni ; Os Boas Vidas (I Vitelloni) , A Doce Vida, As Noites de Cabíria, A Estrada da Vida (La Strada) e Oito e Meio, de Federico Fellini ; Paisá e Stromboli de Roberto Rossellini; e Umberto D e Duas Mulheres de Vittorio De Sica. Scorsese já anunciou que o documentário terá uma continuação abrangendo a década de 70 e incluindo a geração de Bertolucci, Ferreri, Bellocchio e outros. Neste seu longa de agora ele já faz uma referência ao cinema italiano contemporâneo na figura de Nanni Moretti, o ótimo diretor de Caro Diário e que também apresentará seu mais novo filme no Festival de Nova York: O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio) sobre o drama de uma família que vive em Ancona, na costa da Itália e tem que conviver com as conseqüências de uma tragédia, quando o filho mais velho morre num acidente no mar. Il Mio Viaggio in Italia, além de ser uma aula de cinema, é também uma homenagem a uma cinematografia que é uma das melhores do mundo e que hoje luta para reconquistar o lugar que merece na história do cinema universal.