O diretor ítalo-americano Martin Scorsese nasceu em Nova York onde viveu
todos os seus anos de formação no centro da comunidade, conhecida como Little
Italy. No início da sua juventude desejava ser padre mas preferiu o cinema indo
estudar na Universidade de Nova York onde realizou seu primeiro filme - o curta
The Big Shave - que ganhou o prêmio de melhor filme experimental do ano. A
partir daí Scorsese construiu uma carreira de inúmeros sucessos com filmes
como Motorista de Taxi (Taxi Driver), Touro Indomável, O Rei
da Comédia e muitos que remontam a suas raízes sicilianas, como Os Bons
Companheiros e Cassino. Seu mais novo longa é um verdadeiro painel sobre a
história do cinema italiano pegando o período que vai dos anos 40 aos 60 com
os nomes mais importantes daquela fase áurea como Rossellini, Antonioni,
Visconti, De Sica e muitos outros. Mais do que um painel, o filme de Scorsese é
um hino de amor ao cinema italiano e ao neo-realismo. Como diz Scorsese em
determinado momento do seu filme, ele assistiu ao longo de sua vida a todas
essas produções pela televisão e elas representaram para ele uma
possibilidade de conhecer melhor a história da Itália e a vida dos seus
ascendentes: "quando criança eu tinha muitas questões a serem
respondidas e descobri que eu teria essas respostas através do cinema; assim,
foi através dos filmes italianos daquela época que eu consegui descobrir a
minha própria família, quem eram e de onde vieram". conta o diretor. Il
Mio Viaggio in Italia foi lançado no último Festival de Cannes e encantou
os espectadores que tiveram oportunidade de ver ou rever cenas de um cinema que
influenciou toda uma geração de cineastas no mundo todo; na verdade, Roberto
Rossellini ajudou a criar uma linguagem nova de cinema quando realizou Roma,
Cidade Aberta, considerado o marco do movimento. Realizado em 1946, esse
filme é o ponto inicial dessa escola que revolucionou a forma e o conteúdo dos
filmes, atingindo o seu ponto máximo com Ladrões de Bicicleta, de
Vittorio De Sica. Assim, nessa viagem de Scorsese pela filmografia da Itália
podem ser vistas inúmeras cenas de , entre outras obras primas, Obsessão
e Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti ; A Aventura e A
Noite, de Michelangelo Antonioni ; Os Boas Vidas (I Vitelloni)
, A Doce Vida, As Noites de Cabíria, A Estrada da Vida (La
Strada) e Oito e Meio, de Federico Fellini ; Paisá e Stromboli
de Roberto Rossellini; e Umberto D e Duas Mulheres de Vittorio
De Sica. Scorsese já anunciou que o documentário terá uma continuação
abrangendo a década de 70 e incluindo a geração de Bertolucci, Ferreri, Bellocchio
e outros. Neste seu longa de agora ele já faz uma referência ao cinema
italiano contemporâneo na figura de Nanni Moretti, o ótimo diretor de Caro
Diário e que também apresentará seu mais novo filme no Festival de Nova
York: O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio) sobre o drama de
uma família que vive em Ancona, na costa da Itália e tem que conviver com as
conseqüências de uma tragédia, quando o filho mais velho morre num acidente
no mar. Il Mio Viaggio in Italia, além de ser uma aula de cinema, é
também uma homenagem a uma cinematografia que é uma das melhores do mundo e
que hoje luta para reconquistar o lugar que merece na história do cinema
universal.