O gênio do Parmigianino em Parma

Edoardo Pacelli, livre tradução do artigo de Carmela Piccione, ADNKronos

Auto-retrao ao espelho, de 1524, foto ADNKronosPoeta do gesto e do olhar, desvelava ambigüidade, graças escondidas, sofisticado erotismo. Aprazimento estético, complacente com a sua natureza apaixonada e revolucionária de pintor maldito. A cidade de Parma lembrará seu maior artista, Francesco Mazzola, dito o Parmigianino, na ocasião do qüingentésimo aniversário de nascimento, com uma série de importantes encontros e com a primeira grandiosa exposição de amplitude internacional, sob o título de "Parmigianino e o maneirismo europeu". Até o dia 15 de maio podem ser admirados na "Galleria Nazionale" de Parma, telas, pinturas, desenhos, incisões, documentos autógrafos, objetos (medalhas, vasos, relógios solares, moedas, jóias, copas, camafeus e vasos de lápis-lázulis...), além do célebre "Auto-retrato ao espelho", com o qual se apresentou ao Papa Clemente VII para demonstrar, talvez com muito atrevimento, sua perícia na pintura. Seu sonho? Tomar, em Roma, o lugar do amado Rafael, êmulo, mestre de extraordinária graça e sedução. Francesco Mazzola nasceu em 1503, companheiro de aventura de artistas extravagantes como Pontorno, Rosso Fiorentino, Primaticcio (que depois se foram para a corte de Francisco I em Fontainebleau) e sendo crescido à sombra de seu conterrâneo, Correggio. Com eles compartilhou a irrequietude experimental e o insofrimento para com os cânones estéticos de beleza que se afirmaram no início do Quinhentos. «O Parmigianino, como escreve o prof. Antonio Pinelli, destilou um cânon de beleza mais sofisticado, que bem se adaptava à vida de corte neo-feudal, esta que amava espelhar-se narcisisticamente na gélida couraça do próprio modo de ser elite». A diretora do Comitê Científico da Exposição, Lucia Fornari Stanchi, destaca: « As Madonne Madonna de Santo Zacarias, no Museu do Prado, em Madrí, foto ADNKronosdo Parmigianino? Top model. Rosto pequeno, pescoço comprido, membros flexuosos, postura destacada, às vezes soberba, olhar cúmplice, sensual, equívoco... Uma beleza mental, elegante, freqüentemente ambígua. Se a arte de Correggio era táctil, carnal, humano, a de Parmigianino, ao contrário, é etérea» Sobre a vida do Parmigianino muito foi falado e escrito. Restam as interrogações, os mistérios de uma existência consagrada ao trabalho, à pesquisa, à experimentação. Em 1524 o encontramos em Roma, feliz, excitado e eufórico. Teve que fugir antes que os lanzichenecchi (os lansquenês,  mercenários que conquistaram Roma naquele tempo) colocassem a cidade a ferro e fogo. Vittorio Sgarbi, o famoso crítico de arte e autor de um livro sobre o Parmigianino, conta uma curiosa anedota, que as crônicas nos transmitiram pelos séculos. Durante o saqueio de Roma, Parmigianino continuou a pintar, apesar do fragor da batalha e das violências do exército alemão que invadiam a cidade. Como escreve Vasari, alguns soldados, vendo-o trabalhar, ficaram tão extasiados com aquela obra que, como apreciadores das artes, o deixaram continuar a pintar... Orfeu que amestra as feras, lembra Sgarbi. Um evento, este, que tem o sabor da lenda e que dá testemunho da grandeza do homem e do carisma do gênio pictórico. Sempre fugindo da vida, da sua obra e dos homens. «Lindo, rico, culto, músico, Parmigianino representa o ícone de um gosto cortês e imperial, sem igual. Sua grandeur é similar à de Rafael - explica Sgarbi, presidente do Comitê para as Celebrações do Parmigianino - Um pintor que as crônicas descrevem "de aspecto muito gracioso e, talvez, mais aspecto de anjo que de homem", que a distância Retrato de Lucrécia - foto ADNKronosde séculos nos coloca de frente a interrogativos inquietantes. Sua ambigüidade, por exemplo, com uma personalidade similar àquela de Oscar Wilde, pela sua absoluta modernidade de estilo e de pensamento, ligada a uma estética pictórica que investiga através de vultos mulíebres, de fascínio absoluto, dimensões que podem pertencer a um terceiro sexo. Nem masculino, nem feminino». Em seu ensaio, o professor Sgarbi indaga sobre a suposta paixão para a alquimia que levará Parmigianino, cansado, doente, talvez louco, até a morte que o alcançou com 37 anos de idade. «A paixão pela alquimia? - se questiona Sgarbi - Um suplício, uma inquietude, um estado de ânimo dramaticamente contemporâneo, que nada tem a ver com a busca da pedra filosofal». «Para Parmigianino a alquimia representava um sistema de pensamento, um método, um estilo pictórico que buscava, na arte, uma forma de imortalidade. O pintor se divertia, não por acaso,  a procurar novas soluções perspécticas, a brincar com as arquiteturas e os espaços, às vezes deformados pelos espelhos, por enganos óticos o ilusionismos visivos, como tinha acontecido no seu "Auto-retrato ao espelho". Este quadro, de uma beleza singular e complacente, quase femínea, se parece com o "Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde». A partir do dia 4 de junho, a Mostra deixará Parma para lustrar o Kunstistorische Museum de Viena, onde permanecera até o dia 14 de setembro.