Chefes que buscam apenas o poder e os que acariciam um sonho

Edoardo Pacelli

O professor Francesco AlberoniEm recente artigo no jornal italiano Corriere della Sera, o sociólogo professor Francesco Alberoni descreve o comportamento dos homens em relação ao poder. Afirma ele que há dois tipos de chefes (dirigentes e políticos). Um busca o poder para realizar um programa, um sonho, outro deseja apenas ocupar um cargo, possuir um título, possuir autoridade. O primeiro concebe a vida como missão a ser cumprida, o outro a concebe como poder, riqueza, privilégios e honras. O poder para o primeiro é o meio, para outro é o fim. Um exemplo do primeiro tipo é o General De Gaulle, cujo sonho era a unidade e a grandeza da França. Depois da derrota não se rendeu, foi para a Inglaterra onde organizou a Resistência armada e conseguiu que a França se tornasse uma das Quatro Grandes Potências vencedoras. Logo depois governou seu país, mas, desgostado com as manobras dos partidos parlamentares tentou, com o Rassemblement du Peuple Français, uma reforma institucional. Foi derrotado mas não procurou flutuar no poder e não negociou cargo de ministro. Retirou-se em sua casa de campo de Colombey-les-Deux-Eglises e não se ouviu mais falar dele por dez anos. Em 1958, depois da desastrosa guerra de Argélia, quando estava para explodir a guerra civil, os cidadãos foram procurá-lo pedindo-lhe que salvasse a República. Ele voltou e restabeleceu a paz dando, ao mesmo tempo, estabilidade política ao País, realizando a Constituição semipresidencial que tinha sonhado e que ainda hoje está em vigor. O tipo que anseia ocupar um cargo, um assento de executivo, ao contrário, não tem visão nenhuma, nem, tampouco, projetos, ele quer, apenas, tornar-se ministro, presidente da Câmara, do Senado, presidente de um banco, ou de uma fundação, de uma universidade, de qualquer coisa. Sua personalidade, seu ego se apagam ocupando aquele cargo, tornando-se "autoridade" com as honras que isso comporta: carro com motorista, ganhos econômicos, homenagens formais, piquetes de honra que cumprimentam. Quando perde essas coisas, perde tudo pois dentro não é e não tem nada, seu ser se reduz a o invólucro institucional. Por isso procura sempre continuar flutuando, a qualquer custo, aliando-se com qualquer um, disposto a qualquer acordo e a qualquer traição. Esses dois tipos humanos encontram-se em todos os lugares na política, nas empresas e no campo artístico e científico. Há o cientista que busca uma importante descoberta, o artista que dedica sua vida a uma obra imortal e há, ao contrário, quem só quer obter dinheiro, homenagens, títulos, prêmios, nomeações acadêmicas. Nesse caso, igualmente, temos fáceis exemplos. Você acha que quando Michelangelo esculpia a Pietà ou o David, procurasse alguma coisa além da perfeição?

Como podemos reconhecer os dois tipos humanos? É facílimo, é suficiente escutá-los e observar o que eles fazem. As pessoas que procuram realizar uma missão, falam continuamente dos projetos delas, dos ideais que procuram realizar. Estão cheios de entusiasmo, mostram suas buscas, os esquemas, os projetos que os ocupam. Seguem pessoalmente as realizações, trabalhando lado a lado com os colaboradores, buscando o melhor para todos. Os outros, em vez, falam de manobras, maquinações, do que disseram ou do que pensam de fulano ou beltrano, dos votos necessários para alcançar essa ou outra maioria. Entrelaçam relações com personagens importantes, com homens de poder. Acumulam cargos e, enfim, estão sempre presentes nas cerimônias oficiais, ostentando seus títulos e a própria importância.