Em
recente artigo no jornal italiano Corriere della Sera, o sociólogo professor
Francesco Alberoni descreve o comportamento dos homens em relação ao poder.
Afirma ele que há dois tipos de chefes (dirigentes e políticos). Um busca o
poder para realizar um programa, um sonho, outro deseja apenas ocupar um cargo,
possuir um título, possuir autoridade. O primeiro concebe a vida como missão a
ser cumprida, o outro a concebe como poder, riqueza, privilégios e honras. O
poder para o primeiro é o meio, para outro é o fim. Um exemplo do primeiro
tipo é o General De Gaulle, cujo sonho era a unidade e a grandeza da França.
Depois da derrota não se rendeu, foi para a Inglaterra onde organizou a Resistência
armada e conseguiu que a França se tornasse uma das Quatro Grandes Potências
vencedoras. Logo depois governou seu país, mas, desgostado com as manobras dos
partidos parlamentares tentou, com o Rassemblement du Peuple Français,
uma reforma institucional. Foi derrotado mas não procurou flutuar no poder e não
negociou cargo de ministro. Retirou-se em sua casa de campo de Colombey-les-Deux-Eglises
e não se ouviu mais falar dele por dez anos. Em 1958, depois da desastrosa
guerra de Argélia, quando estava para explodir a guerra civil, os cidadãos
foram procurá-lo pedindo-lhe que salvasse a República. Ele voltou e
restabeleceu a paz dando, ao mesmo tempo, estabilidade política ao País,
realizando a Constituição semipresidencial que tinha sonhado e que ainda hoje
está em vigor. O tipo que anseia ocupar um cargo, um assento de executivo, ao
contrário, não tem visão nenhuma, nem, tampouco, projetos, ele quer, apenas,
tornar-se ministro, presidente da Câmara, do Senado, presidente de um banco, ou
de uma fundação, de uma universidade, de qualquer coisa. Sua personalidade,
seu ego se apagam ocupando aquele cargo, tornando-se "autoridade" com
as honras que isso comporta: carro com motorista, ganhos econômicos, homenagens
formais, piquetes de honra que cumprimentam. Quando perde essas coisas, perde
tudo pois dentro não é e não tem nada, seu ser se reduz a o invólucro
institucional. Por isso procura sempre continuar flutuando, a qualquer custo,
aliando-se com qualquer um, disposto a qualquer acordo e a qualquer traição.
Esses dois tipos humanos encontram-se em todos os lugares na política, nas
empresas e no campo artístico e científico. Há o cientista que busca uma
importante descoberta, o artista que dedica sua vida a uma obra imortal e há,
ao contrário, quem só quer obter dinheiro, homenagens, títulos, prêmios, nomeações
acadêmicas. Nesse caso, igualmente, temos fáceis exemplos. Você acha que
quando Michelangelo esculpia a Pietà ou o David, procurasse alguma coisa além
da perfeição?
Como podemos reconhecer os dois tipos
humanos? É facílimo, é suficiente escutá-los e observar o que eles fazem. As
pessoas que procuram realizar uma missão, falam continuamente dos projetos
delas, dos ideais que procuram realizar. Estão cheios de entusiasmo, mostram
suas buscas, os esquemas, os projetos que os ocupam. Seguem pessoalmente as
realizações, trabalhando lado a lado com os colaboradores, buscando o melhor
para todos. Os outros, em vez, falam de manobras, maquinações, do que disseram
ou do que pensam de fulano ou beltrano, dos votos necessários para alcançar
essa ou outra maioria. Entrelaçam relações com personagens importantes, com
homens de poder. Acumulam cargos e, enfim, estão sempre presentes nas cerimônias
oficiais, ostentando seus títulos e a própria importância.