A mais ilustre emigrante italiana no Brasil foi, sem dúvida, Sua Alteza Imperial Dona Teresa Cristina Maria de Boubon y Bourbon, que foi tão amada, ao ponto de ser chamada "mãe dos brasileiros".
Ela
nasceu em Nápoles, Capital do Reino das Duas Sicílias , onde morou até o
momento em que, depois de ter casado por procuração com o Imperador do Brasil,
saiu em 30 de maio de 1843, a bordo da fragata "Constituição",
para unir-se ao seu marido, dom Pedro II.
A neo-imperatriz deixava um Reino que não era, como injustamente foi descrito depois da Unificação da Itália, uma terra selvagem, mas era um Pais em busca de modernização. Era um Pais que, já no século XVIII, tinha criado modernas industrias, quais as fabricas de seda de San Leucio, a Real Porcelana de Capodimonte e a fabrica de armas de Mongiana. Três industrias nos setores mais procurados da época.
No Reino de Nápoles surgiu a primeira siderúrgica da Itália e foi construída também ali a primeira estrada de ferro da península. O Reino possuía a mais importante frota mercantil do Mediterrâneo e tinha fortes interesses comerciais no mundo inteiro, como demonstra o particular interesse daquele Governo no entreter relações políticas e comerciais com os Países deste lado do Atlântico.
Dona Teresa Cristina chegou no Rio de Janeiro em três de setembro do mesmo ano e, no dia seguinte, casou-se na Capela Imperial, segundo os ritos da Igreja Católica, dando inicio a sua aventura matrimonial.
Segundo muitos cronistas, Dom Pedro II teria ficado profundamente decepcionado ao ver sua Augusta Esposa que, deve-se reconhecer, não poderia ser considerada um exemplo de beleza. Mas esta decepção foi certamente superada num curto laço de tempo: a personalidade, o caráter, a bondade, a inteligência e todas as outras qualidades que Dona Teresa Cristina possuía em grande quantidade, conquistaram o jovem Imperador, que estreitou com a consorte uma relação duradoura que, além da ligação afetiva, encontrava suas raízes na comunhão de interesses intelectuais, culturais e morais, que permitiram ao casal uma intensa vida em comum, interrompida somente pelo falecimento de Dona Teresa Cristina, que aconteceu em Porto e que foi causado, como ela mesma admitiu em seu leito de morte, não por enfermidade mas sim por desgostos.
Estranha coincidência do destino, a Imperatriz morou naquela mesma cidade em que em 1849 tinha falecido Carlo Alberto de Savoia, o Rei sardo-piemontês que tinha dado inicio ao processo de unificação da Itália, processo ao termino do qual o sobrinho de Dona Teresa Cristina, o Rei Francesco II, iria perder o seu Reino.
Desde sua chegada, a jovem Imperatriz dedicou sua existência, por um lado, aos cuidados pela família, e, por outro, aos cuidados pelos pobres, pelos menos afortunadas, pelas pessoas que sofrem, sem por outro lado deixar de assistir o marido, com uma presença constante e discreta, no exercício de suas funções.
E nesse marco de dedicação à sua nova Pátria a Imperatriz conseguiu atrair da sua Pátria de origem, inúmeras personalidades intelectuais, que também adotaram o Brasil como Pátria.
A Imperatriz não quis somente atrair os compatriotas do Reino de Nápoles, mas, também, os italianos de todas as partes da península, como demonstra a aventura dos cidadãos de Concórdia e Modena que, no final da época imperial, vieram para o Brasil com destino final o Rio Grande do Sul, mas que, por causa da febre amarela, ficaram aqui perto e fundaram a cidade de Porto Real, e cuja epopéia è ilustrada no livro " Un sogno: la Merica! Os meus 56 anos de Brasil" diário de Emilio Secchi que foi apresentado nesta mesma sala, às 18,00 horas no dia 5 de agosto.
Outra coincidência histórica extraordinária que celebramos este ano são os cento e quarenta e quatro anos da fundação da Sociedade Italiana de Beneficência e Mutuo Socorro, com a qual a Imperatriz contribuiu com a astronômica quantia de 1.000 contos de reis, em quanto o imperador contribuía com 400 contos de reis.
Tal Sociedade não foi chamada de Sociedade Napolitana ou Sociedade Partenopéia, foi chamada sim Sociedade Italiana como demonstração da consciência que Dona Teresa Cristina tinha da unidade histórica da Itália, conceito que na época era julgado revolucionário, não somente na Itália, mas também em toda a Europa.
Esta extraordinária modernidade, junto com o profundo apego à religião e um extraordinário sentido de dever perante sua Pátria de adoção e seus novos súditos, foram imediatamente percebidos pela população brasileira que, como lembra Alfredo Teodoro Rucins, e come falei anteriormente, passou a chama-la "mãe dos brasileiros": e mãe tornou-se, por bem quatro vezes.
Infelizmente, de sua prole sobreviveram somente as duas Princesas, Dona Leopoldina e Dona Isabel, que permitiram a sobrevivência da Casa Imperial até os nossos dias.
Existem muitos testemunhos sobre o apego que Dona Teresa Cristina teve pelo Brasil e sobre as atividades que ela desenvolveu para ajudar os necessitados.
Gostaria de lembrar que quando deixou o Brasil, que não voltaria mais a ver, chorando do seu exílio português, perguntava-se quem se preocuparia com o destino dos inválidos, dos órfãos, dos aleijados da guerra do Paraguai, das viuvas, de todas as pessoas que ela ajudava também com seus recursos pessoais.
Esta sua aflição foi tão grande que a conduziu à morte. Suas ultimas palavras foram: "Brasil, terra linda, não posso lá voltar".
Esta breve homenagem a esta personagem tão pouco conhecida mas tão importante não somente para as ações diretas mas, também, para o suporte que ela deu e a influencia que ela exerceu sobre o Império e as filhas, não constituem um relato histórico mas somente um breve excurso na espera que alguém escreva uma biografia que possa melhor ilustrar a influencia desta pequena mulher neste grande Pais.