A lira e alguns de seus protagonistas

por Edoardo Pacelli

No dia 1 de janeiro de 2001, os onze Países da União Européia vão renunciar a uma das maiores prerrogativas de uma Nação: sua moeda. É por isso que ITALIAMIGA quer oferecer a seus leitores uma visão de algumas das moedas italianas, descrevendo os personagens que enfeitam as liras, destinados a desaparecer. Iniciamos com a menor nota, a de mil liras, na qual é reproduzida uma grande educadora. Trata-se de Maria Montessori

Montessòri (Maria), pedagoga e educadora italiana (Chiaravalle, Ancona, 1870 - Noordwijk, Olanda, 1952). Foi a primeira mulher, na Itália, a conseguir a láurea em medicina; dedicou-se, após os estudos universitários, à cura das crianças afetadas por doenças mentais, chegando logo à conclusão que o tratamento educativo conseguia resultados mais positivos que as curas médicas tradicionais. Depois ter dirigido a Scuola Magistrale Ortofrenica de Roma (1899-1900), iniciou a atividade diretamente educativa fundando (1906) a «casa dei bambini», (casa das crianças), destinada aos filhos das famílias operárias do bairro San Lorenzo em Roma. A Montessori deixou a Itália em 1936; foi em várias partes do mundo, da Índia aos Estados Unidos, da Suécia à China, onde cuidou do rápido florescer das escolas montessorianas e terminou seus dias num vilarejo de pescadores holandês perto da cidade de Léida, que tinha escolhida como sua residência definitiva. A ideologia da Montessori funda-se sobre o que foi chamado o «messianismo da criança», isto é, sobre a atribuição à criança de energias criativas e de disposições morais, o amor, que o adulto possui comprimidas dentro de si tornando-as inativas. Por isto o adulto tende a reprimir a criança, impondo um ambiente feito em outra medida, obrigando-o, desde a primeira infância a formas e ritmos de vida inaturais. Por esta razão, a escola montessoriana se caracteriza, em primeiro lugar, por ambientes construídos a medida das crianças, depois pela ativação da vida ambiental, com uma oportuna adequação das ocupações e com a utilização de materiais de desenvolvimento (encaixas, fios coloridos, ecc.). O método montessoriano, apesar de algumas reservas, é atualmente largamente difundido, sobretudo no exterior. Obras principais: Il metodo della pedagogia scientifica applicato alla educazione infantile nella casa dei bambini (1909), L’autoeducazione nella scuola elementare (1916), Manuale di pedagogia scientifica (1930), Educazione e pace (1949), Il segreto dell’infanzia (1950), La mente del bambino (1952). Desde 1990 a efígie da Montessori aparece nas notas italianas de 1.000 liras. 

A segunda nota considerada,a é a de cinco mil liras, que reproduz o retrato de um compositor, Vincenzo Bellini. 

Bellini na cédula de 5 mil lirasBellini (Vincenzo), compositor italiano (Catania 1801 - Puteaux, Parigi, 1835). Pertencente a uma família de músicos originários dos Abruzzi, demonstrou precoces atitudes musicais e cumpriu as primeiras experiências assistido delo avô e pelo pai; ao mesmo tempo, cultivava o estudo das letras. Depois de uma conspícua produção juvenil, entre elas merecem ser lembradas as óperas Adelson e Savini, Bianca e Fernando e Il pirata, uma doença no verão de 1830 e a crise espiritual que seguiu, produziram em Bellini a forte aspiração a uma purificação artística, que está à base das duas obras-primas de 1830 e de 1831: La sonnambula e Norma.  Poucos meses depois, pelo reagravar-se da doença no fígado, faleceu antes de completar seus 34 anos, chorado pela Europa inteira. O corpo do maestro foi embalsamado, e, em 1876, transportado em Catánia. A produção belliniana, limitada ao decênio 1825-1835, além dos melodramas já lembrados, compreende música sacra (entre elas duas missas, Magnificat, Salve Regina, Credo, Te Deum), sinfônica e de câmara (seis sinfonias, concerto para oboé, muitas árias, romanze e cantadas). Na ópera teatral a personalidade de Bellini teve a força de reagir seja ao influxo da escola napolitana, seja ao prepotente domínio do ímpeto rossiniano, afirmando seu próprio mundo interior, através da pureza de um lirismo absoluto e universal. Não meditou novas estruturas na arquitetura do melodrama, mas inovou a livre conduta das árias e o significado dramático dos recitativos. As quatro operas milaneses (Pirata, Straniera, Sonnambula, Norma) marcam a separação do "setecentístico" melodiar de Paisiello e de Cimarosa. Wagner, a propósito de Norma escreveu: «A ação, sem efeitos vistosos, nos lembra a dignidade da tragédia grega». 

Continuamos com um dos gênios italicos, o pai da eletricidade, Alessandro Volta. 

Volta na cédula de 10 mil lirasVolta (Alessandro), físico italiano (Camnago, hoje Camnago Volta, Como 1745 - Como 1827). Volta nasceu em Como, cidade à beira do lago homônimo, onde viveu e conduziu suas pesquisas que o levaram a descobrir, entre outras coisas, o gás metano, o micro-eletroscópio e a publicar as leis sobre a dilatação isóbara do ar, antes de Gay-Lussac. Em 1792 inicia sua disputa com Galvani, sobre a natureza da eletricidade. Em 1799 constrói a primeira pilha e, no mês de março de 1800, numa célebre carta endereçada ao Presidente da Royal Society podia comunicar, dois anos depois, a invenção da pilha elétrica, dando o ano sucessivo em Paris, uma demonstração pública à presença de Napoleão Bonaparte que lhe conferiu, pela importância da descoberta, medalha de ouro. Com a pilha, inicia a era da utilização da eletricidade. 

Terminamos essa breve viagem pelas moedas italianas com um dos maiores pintores da Renascimento. Trata-se de Michelangelo Merisi, dito o Caravaggio. 

Caravaggio na cédula de 50 mil lirasCaravaggio, apelido de Michelangelo MERISI (o MERIGHI o AMERIGHI), pintor italiano (Caravaggio, 1571 cerca, Porto Ercole 1610). Caravaggio revelou-se como pintor em Roma com pequenas telas de aparência humilde, mas de conteúdo e matéria pictórica elevados e já revolucionários: o Ragazzo con il cestino di frutta e il Bacchino malato (Roma, Galleria Borghese). Seguiram obras jà mais maduras como Il Riposo in Egitto e La Maddalena (Roma, Galleria Doria Pamphili), la Cena in Emmaus (Londra, National Gallery), obras nas quais a perspectiva se amplia, aparece a paisagem e faz seus primeiras ensaios sobre aquela irepetível luz caravaggesca que se tornará o elemento originalíssimo de tantas composições sucessivas. Esta primeira atividade culmina nas telas pintadas entre 1598 e 1600, para a capela Contarelli in San Luigi dei Francesi: la Vocazione e il Martirio di san Matteo. Entre 1600 e il 1601 Caravaggio pintou para a capela Cerasi in Santa Maria del Popolo, sempre em Roma, a Crocifissione di san Pietro e a Conversione di san Paolo, o quadro sacro mais revolucionário do século. Os primeiros anos do século XVII foram caracterizados por uma longa série de desventuras que levaram Caravaggio à morte, dia 18 de julho 1610.