A Grécia Salentina e a língua grika - Herança helênica no coração do Salento

de Claudia Valeria Arantes Lopes

Clique aqui para aumentarA Grécia Salentina fica no coração do Salento e abrange os municípios de Calimera, Castrignano dei Greci, Corigliano d’Otranto, Martano, Martignano, Melpignano, Soleto, Sternatia e Zollino. Não se sabe ao certo quando se formou essa colônia grega, mas as duas principais hipóteses apontam para o período bizantino e para a Magna Grécia. A principal característica dessa área é o griko – língua dos gregos da Terra d’Otranto –, que conseguiu sobreviver no Salento. Seu período de maior esplendor foi durante o Império Bizantino, quando se tornou a língua do poder, da Igreja e dos nobres. O florescer da língua e da cultura helênica deu-se com a chegada dos monges basilianos ao Salento, em fuga do Oriente devido à imposição iconoclasta – movimento contrário à adoração de imagens nas igrejas cristãs do Oriente, entre os séculos VIII e IX. O declínio do griko deveu-se a fatores como a forte latinização, ocorrida no século XI, a queda do império bizantino e a separação da Igreja Romana de outras igrejas. Mais recentemente, a imposição da língua italiana, o serviço militar obrigatório para os jovens – que se afastavam das suas raízes e, ao retornar, traziam inovações lingüísticas –, a televisão, o rádio, os jornais. Com o final do isolamento dos municípios da Grécia Salentina, houve um aumento muito significativo de matrimônios com i forestieri, facilitando a introdução de vários termos dialetais de outras áreas e regiões. Além disso, o italiano era a língua oficial (dos “senhores”) e o griko, a língua das pessoas ignorantes, que começaram a envergonhar-se de falá-la. A língua grika entrou num estado de isolamento do qual nunca mais saiu. Com a recente revalorização da cultura popular, iniciou-se uma obra de recuperação e conservação da língua e da cultura greco-salentina. Tarefa difícil porque, atualmente, há poucos centros onde o griko ainda é falado e compreendido, sobretudo, pelas novas gerações – somente os mais velhos falam em griko. Apesar de tudo, existe uma vasta produção literária e lírica: lendas, histórias, canções, traudi (cantos de amor), lamentos, moroloja (lágrimas fúnebres). Também a poesia teve grande repercussão, entre os literatos e a população – uma poesia cheia de ingenuidade, que exprime sentimentos e aspectos da vida quotidiana. A mistura de elementos gregos e salentinos proporcionou às cidades da região um desenvolvimento cultural autônomo e original. Vários traços da cultura helênica eternizaram-se na arquitetura, na música, na gastronomia, nas tradições e na língua, finalmente tutelada por uma lei do Parlamento, que protege as minorias lingüísticas.

Esempio di un Traudi anonimo

ÒRRIO IO TO FENGO

Òrrio tto fengo pu su ste kanòni
Òrrio tto fengo io pu s’oste panu 
Èsprize tikiané, sekundo o xiòni
Jò llustro pu èmbie o fengo ‘pu cipànu

 

Ma en io tosso ciso mea spiandoro
Cino pu férefse ì kkardian emena
Io t’ammài-ssu, a mmàdia, o musos olo
Pu kante o fengo, kononònta esena!

 

BELLA ERA LA LUNA

Bella era la luna che tu guardavi
Bella era la luna che ti sovrastava
E tutto imbiancava come la neve
Per la luce che emanava di lassù

 

Ma non fu tanto quella grande luce
Ciò che ferì il mio cuore
Furon gli occhi tuoi ed il tuo viso
Che incantavano la luna che ti guardava!

 

Esempio di moroloja per un bambino

Klàfsete, klàfsete, klèome
‘Utti mana skunkulata
Ti torì to pedai ttì
Na pai ‘ci kau s ti pplaka

E ttu pònise u Tanatu
E’ ttu pònise e kardìa
Na tronkefsi utton argulo
Ttu simà’s tin ghetonìa!

 

Piangete, piangete, piangiamo
Questa madre sconsolata
Che vede il suo bambino
Scendere sotto la tomba

E non dolse alla morte
Non le dolse il cuore
Troncare questa pianta
Da questo vicinato!