A
Basílica da Natividade é a igreja mais antiga da Terra Santa, uma verdadeira
jóia da história da arte. Em 326 sua construção foi ordenada por Santa
Helena, mãe do imperador romano Constantino. O Imperador Giustiniano, por sua
vez, a embelezou em 540. Da primeira época, ainda subsistem alguns mosaicos. O
biblista Gianfranco Ravasi, responsável pela Biblioteca Ambrosiana, explica em
recente entrevista, que não é apenas esta, a sua antiguidade, a realidade mais
importante, senão o fato que exército nenhum ousou profanar este lugar
sagrado, ao longo de 17 séculos, nem mesmo o sultão Saladim, ferrenho
adversário dos cruzados. Como foi escolhido este lugar? Não apenas por causa
da tradição. Já no ano 135 d.C. era conhecido que naquele local a memória
cristã conservava um evento muito importante; o imperador Adriano, visando
profanar os lugares sagrados cristãos e judeus, ali construiu um templo
dedicado ao deus Adonis.
Desde sua construção a basílica nunca foi violada e parece até milagroso que
todos os exércitos que até ali chegaram, sempre a respeitaram e sempre por
motivos religiosos. Em 614, os soldados do imperador persa, Cosroe, se
aproximaram da Igreja, já preparavam os fogos para incendiá-la, quando pararam
atônitos, os olhares fixos no antigo mosaicos, no alto do templo, representando
um cortejo em traje persa. Reconheceram, nos 3 reis magos, sua própria gente e
pouparam o edifício. 24 anos mais tarde os árabes, que igualmente andavam
queimando todos os símbolos cristãos, pararam à frente da igreja, pois
souberam que era dedicada à "Beatíssima Virgem Maria, mãe do profeta
Jesus", come diz o Alcorão. Em 1187 Saladim conquistou Jerusalém, mas
permitiu que a Basílica da Natividade continuasse aberta ao culto, cobrando
apenas um pequeno tributo. Prudentemente os cruzados construíram uma porta de
125 centímetros de altura, que chamaram de "porta da humildade" pois
sua pouca altura obrigava as pessoas a se curvarem para poder adentrar a igreja.
Na realidade, a baixa altura garantia que pessoas a cavalo não pudessem nela
penetrar.
Inspirado na Basílica da Natividade, São Francisco de Assis criou, em 1223, o
primeiro presépio, na cidade italiana de Greggio, depois de sua visita à Terra
Santa.
Em
1717 os franciscanos colocaram uma estrela de prata com quatorze pontas e uma
inscrição latina que diz "Aqui, da Virgem Maria, nasceu Jesus".
Pensando bem, os problemas maiores surgiram das divergências entre as várias
comunidades cristãs, sempre prontas a brigar entre si. Após séculos de
litígios, a situação se fixou no atual statu quo, quando, em 1854, o sultão
da época dividiu o território entre ortodoxos, armênios e franciscanos, com
horários e percursos definidos, o que colocou fim a todas as brigas. Talvez a
situação crítica atual possa conseguir uma reaproximação ecumênica, a
união entre as várias comunidades. No idioma hebreu, Bet-lehem significa Casa
do pão, enquanto em árabe a cidade se chama Bet-laham, Cidade da carne, quase
um emblema da encarnação. Como em Jerusalém, também na pequena cidade de
Belém, assim como na Basílica, cruzam-se as três religiões: os cristãos a
veneram, os muçulmanos sempre a respeitaram como lugar da mãe de Jesus e, para
os judeus, é o lugar onde nasceu um judeu, Jesus de Nazareth, uma das grandes
figuras do judaísmo. Monsenhor Ravasi, na mesma entrevista, falando sobre o
cerco dos soldados israelenses, afirma que "A esperança é que se confirme
a dimensão milagrosa que até hoje poupou a Basílica de profanações e
destruições. E que parem as violências". Belém é um lugar sagrado,
primeiramente para os judeus, pois é a pátria de Davi. Na Bíblia, no segundo
livro de Samuel, Capítulo XXIII, encontramos o episódio que aconteceu durante
uma das campanhas contra os filisteus, quando Davidexpressa o extravagante
desejo: "Quem me dará a beber das águas do poço que está à porta de
Belém?" Então três valentes penetraram no acampamento dos filisteus e
tiraram água do poço que está à porta de Belém, trouxeram-na a David, mas
ele não a quis beber e derramou-a em libação ao Senhor.