A Basílica da Natividade

Edoardo Pacelli

A Basílica da NatividadeA Basílica da Natividade é a igreja mais antiga da Terra Santa, uma verdadeira jóia da história da arte. Em 326 sua construção foi ordenada por Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino. O Imperador Giustiniano, por sua vez, a embelezou em 540. Da primeira época, ainda subsistem alguns mosaicos. O biblista Gianfranco Ravasi, responsável pela Biblioteca Ambrosiana, explica em recente entrevista, que não é apenas esta, a sua antiguidade, a realidade mais importante, senão o fato que exército nenhum ousou profanar este lugar sagrado, ao longo de 17 séculos, nem mesmo o sultão Saladim, ferrenho adversário dos cruzados. Como foi escolhido este lugar? Não apenas por causa da tradição. Já no ano 135 d.C. era conhecido que naquele local a memória cristã conservava um evento muito importante; o imperador Adriano, visando profanar os lugares sagrados cristãos e judeus, ali construiu um templo dedicado ao deus Adonis.
Desde sua construção a basílica nunca foi violada e parece até milagroso que todos os exércitos que até ali chegaram, sempre a respeitaram e sempre por motivos religiosos. Em 614, os soldados do imperador persa, Cosroe, se aproximaram da Igreja, já preparavam os fogos para incendiá-la, quando pararam atônitos, os olhares fixos no antigo mosaicos, no alto do templo, representando um cortejo em traje persa. Reconheceram, nos 3 reis magos, sua própria gente e pouparam o edifício. 24 anos mais tarde os árabes, que igualmente andavam queimando todos os símbolos cristãos, pararam à frente da igreja, pois souberam que era dedicada à "Beatíssima Virgem Maria, mãe do profeta Jesus", come diz o Alcorão. Em 1187 Saladim conquistou Jerusalém, mas permitiu que a Basílica da Natividade continuasse aberta ao culto, cobrando apenas um pequeno tributo. Prudentemente os cruzados construíram uma porta de 125 centímetros de altura, que chamaram de "porta da humildade" pois sua pouca altura obrigava as pessoas a se curvarem para poder adentrar a igreja. Na realidade, a baixa altura garantia que pessoas a cavalo não pudessem nela penetrar.
Inspirado na Basílica da Natividade, São Francisco de Assis criou, em 1223, o primeiro presépio, na cidade italiana de Greggio, depois de sua visita à Terra Santa.
hic verbum caro factum estEm 1717 os franciscanos colocaram uma estrela de prata com quatorze pontas e uma inscrição latina que diz "Aqui, da Virgem Maria, nasceu Jesus". Pensando bem, os problemas maiores surgiram das divergências entre as várias comunidades cristãs, sempre prontas a brigar entre si. Após séculos de litígios, a situação se fixou no atual statu quo, quando, em 1854, o sultão da época dividiu o território entre ortodoxos, armênios e franciscanos, com horários e percursos definidos, o que colocou fim a todas as brigas. Talvez a situação crítica atual possa conseguir uma reaproximação ecumênica, a união entre as várias comunidades. No idioma hebreu, Bet-lehem significa Casa do pão, enquanto em árabe a cidade se chama Bet-laham, Cidade da carne, quase um emblema da encarnação. Como em Jerusalém, também na pequena cidade de Belém, assim como na Basílica, cruzam-se as três religiões: os cristãos a veneram, os muçulmanos sempre a respeitaram como lugar da mãe de Jesus e, para os judeus, é o lugar onde nasceu um judeu, Jesus de Nazareth, uma das grandes figuras do judaísmo. Monsenhor Ravasi, na mesma entrevista, falando sobre o cerco dos soldados israelenses, afirma que "A esperança é que se confirme a dimensão milagrosa que até hoje poupou a Basílica de profanações e destruições. E que parem as violências". Belém é um lugar sagrado, primeiramente para os judeus, pois é a pátria de Davi. Na Bíblia, no segundo livro de Samuel, Capítulo XXIII, encontramos o episódio que aconteceu durante uma das campanhas contra os filisteus, quando Davidexpressa o extravagante desejo: "Quem me dará a beber das águas do poço que está à porta de Belém?" Então três valentes penetraram no acampamento dos filisteus e tiraram água do poço que está à porta de Belém, trouxeram-na a David, mas ele não a quis beber e derramou-a em libação ao Senhor.